terça-feira, 31 de julho de 2007

Árvores cobertas de líquen(es), enganadoramente coloridos...



Líquen – associação simbiótica de fungos com algas clorofíceas ou esquizóticas, apêndice dos fungos. (vd. Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora, 6ª Edição)
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Esta árvore enfeitada de líquen(es), incautamente colorida por parasitas, podia ser eu.
É!... Podia ser eu…
Tal como ela, parece que me ofereci à parasitagem, olhando-me ao espelho sem desagrado, pelos vistos.
[Mais ainda: vergonhosamente inocente.]


Dez anos depois, olho-me com outros olhos, nos mesmos espelhos e cheiro a bolor…
Debaixo do colorido dos fungos, fui carcomida pelos outros, sem o menor pudor.

Amanhã é o dia em que tenciono limpar estes fungos e deixar respirar quem sou, se é que ainda sou. Ou…, apenas ver no que me tornei, despida da invasão dos parasitas.
[Vergonhosamente incauta.]
É que, mesmo sem uma intenção formalizada, ou deliberada... de boas intenções estaria o Inferno cheio (se o houvesse)!
Por isso, amanhã é o último dia desta árvore coberta de líquen(es), enganadoramente coloridos.
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Nota: salvaguardo as devidas excepções, que não preciso de identificar, por serem as excepções!


domingo, 29 de julho de 2007

Saudades de um baloiço verde e do meu avô...

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Quero o baloiço
da latada verde escura.
Vou esquecer
que o cimento a invadiu
o baloiço enferrujou
e que os meus olhos
estão cada vez
mais pequenos.

No tempo do baloiço
as uvas verdes
eram doces
os vasos eram maiores
os patins voavam
o avô mandava mais
e eu cabia no baloiço!

Agora, o avô dura
nas tardes doentes,
deitado em sofás
de plástico…
Já não diz nada.
As fotos coloridas
não existem
ou estão cinzentas.


04.Jan.1980
[Do verde, só as palavras têm a cor da memória: de um baloiço, dos pinheiros da infância e da saudade de um avô, que perdi…]