segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Whatever!...


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Não vou dizer que tenho grandes expectativas para 2008.
Fico contente, porque outros as têm, ou têm esperança de as vir a ter... e porque a alegria dos outros me contenta.
Pena é, que não tenha o imenso poder de me contagiar, no sentido virótico do termo. [É que ando mais resistente do que pensava aos agentes externos... Consegui não me constipar durante o último quadrimestre. Se estive doente, na última semana de trabalho, foi porque fiz asneira e andei ao frio, pelas ruas da Póvoa. Foi uma coisa bacteriana e que passou, depois de tratada, durante os primeiros dias de repouso.]
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Para 2008? Whatever and whenever... [assim, um pouco como tiro partido de manchas, aparentemente aleatórias, quando resolvo dedicar-me ao desenho, tão raramente. Os resultados são o que são, isto é, meros exercícios de concentração. Nunca me sinto relaxada quando desenho, quando escrevo, quando penso. A minha actividade neuronal é alimentada com adrenalina e dores nas cervicais... Nirvana não é para mim, apesar de anos de Yoga, para aprender a respirar].
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A depressão colectiva, apesar de Um Ar De cinismo, claro que me afecta, mais profundamente do que seria saudável.
Não vou negar que me preocupa, irrita e revolta, apesar de mudar de canal na hora dos noticiários e não ouvir rádio no carro, por princípio. [Mas é inegável o poder da comunicação, que chega por outras vias, sempre!... Até mais depurada, muitas vezes, em formato de Decreto-Lei ou Decreto Regulamentar!].
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Sei que vou começar o mês de Janeiro a fazer madrugadas, não por me deitar tarde [um dos pequenos prazeres que me tem sido interditado e, quando não me porto bem, sofro na pele as duras consequências de uma semana a cair de cansaço], mas para me levantar cedo, o que me deprime a priori.
Deveria pensar nos prazeres de ver nascer o sol durante as viagens matinais... e de usufruir do inverso, no caminho de volta? Serei menina para isso? Acho que não... mas who knows?
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Espero ter disposição para dedicar a esta actividade e para visitar os meus blogs preferidos. Não dou este tempo por mal gasto ou o julgo uma mera distracção. [Também me faz doer as cervicais...].
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Já sei que não vou ter tempo, nem vontade, para actividades saudáveis, do tipo jogging, hidroginástica e afins... Por isso, nem vou alimentar ilusões.
Enfim! Como diria a minha avó, se pudesse dizer-me alguma coisa, aqui e agora, estou naquela idade aborrecida para as mulheres, isto é, velha demais para ter filhos [e podia ter tido mais, já que voltei a insistir noutro casamento] e nova demais para ter netos...
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Li em qualquer lado que, quando o simples facto de uma agulha cair ao chão, gera a maior das irritações, então, estamos a precisar de abrandar o ritmo, parar, fazer um tratamento, até!... Vou evitar agulhas por perto, de todas as espécies e feitios, por via das dúvidas!
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Para quem é jovem, para ter filhos, um Bom Ano!
Para quem já não é tão jovem e pode ter netos, um Bom Ano!
Ora, acho que a minha avó diria que, para os outros também!...
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Subscrevo.
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quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Requiem para um amigo que não chegou ao natal...




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Foi colhido pelo comboio de Aveiro, na véspera de natal, num apeadeiro de Valadares.
Ao que parece, tinha ido tratar de uns assuntos [os do costume, receber o dinheiro das telas já vendidas, mas não pagas, assuntos de que os artistas, agora, também têm que tratar, para além de criar...].
Já atrasado, suponho, cada vez mais míope... Não sei.
Sei que será cremado o corpo (ou o que resta dele) do nosso amigo e pintor Miguel D'Alte, amanhã, no cemitério do Prado Repouso.
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Finalmente, como o bom artista é o artista morto, pelo menos no nosso país, não terá mais problemas em ver os seus quadros vendidos...
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Curiosamente, o Miguel era um pintor meticuloso e cerebral, com que eu gostava de comentar as obras e brincar com a frivolidade das artes em portugal.
Mas, na cerâmica (nos workshops organizados pelo meu marido e que eu presenciei), a sua relação com os materiais era quase oposta.
Ofereceu-nos esta pequena escultura que eu sempre associei à pessoa que ele era, para mim [alguém que precisava de elevar a cabeça com as próprias mãos para (sobre)viver neste mundo, assim, como quem arregaça as baínhas das calças para não as molhar nos charcos sujos...]. Está e estará a guardar a porta do quarto do meu filho, numa expressão simbólica, que sempre teve.
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Já não temos Miguel. Mais uma vez, "tão cedo passa tudo quanto passa". [Ricardo Reis]
Ficará a obra... Porque a tem, espalhada por quem a aprecia e por quem nem sabe o que tem.
Vou lembrar-me dele, inevitavelmente. Vamos! Aqueles que gostavam do Miguel, ainda que por razões diferentes.
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Eu despeço-me do Miguel, que podia sujar-se nas tintas e nos pincéis, mas que se indignava com os charcos sujos desta vida. [- Eu só sei pintar, não sei fazer mais nada. - Parece que não chegava... não chegava, mesmo. É triste viver num país que não acarinha os artistas, quando eles o são, isto é, bons!]
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quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

A minha Árvore de Natal...

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A minha Árvore de Natal não está aqui em casa.
Há vários dias que queria eternizá-la numa imagem digital.
Hoje, à espera da hora marcada para a reunião com os Encarregados de Educação da minha direcção de turma, quase sem luz do dia, consegui fotografá-la.
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É a altura do ano em que este jardim interior é mais bonito. As mãos dos funcionários e a sua mestria em jardinagem fazem destas coisas!... Um grupo de alunos [provavelmente a cumprir "pena" com serviço cívico, em vez de suspensão] ajudava a varrer os galhos e as folhas secas.
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E brincavam, também... Chamaram-me para ver o coração acabado de gravar no tronco de outra árvore.
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Chamei-lhe Tronco de Árvore com o coração de um aluno!...
Este coração gravado de fresco ficará, para sempre, neste tronco.
Tudo pareceu eterno, de repente. Vivo...
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Procurei outros recantos [que fazem companhia à minha Árvore de Natal, que não está aqui em casa], antes que a luz desaparecesse e começasse a chover a sério. Chuviscava.
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E encontrei um dos meus preferidos, que contemplo das janelas da cantina, quando almoço na Escola.
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Parece que coisas importantes na minha vida não estão em minha casa.
Isso deve ter algum significado a desvendar.
E, isso terei que admitir, apesar dos muitos pesares.
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[Nota: Esta semana as salas de toda a Escola estavam gélidas. Era tão óbvio... Faltava o calor e o movimento dos mais de mil alunos que já entraram em férias escolares!]
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domingo, 16 de dezembro de 2007

Natal e Pietá...


.Inevitavelmente, estava a pensar no natal.
Como em todos os natais lembrei-me da mãe de Cristo e do meu encontro com a Pietá de Michelangelo, na primeira capela da alameda do lado direito, na Basílica de S. Pedro.
.E, apesar de ter anunciado um intervalo, não resisti a reviver as circunstâncias bizarras em que a vi, quando não devia ter visto, mas vi….
[É preciso antecipar que tenho uma tendência estranha para visitar obra museológica e monumental quando decorrem manobras de manutenção. Foi assim com a catedral/mesquita em Córdova… que não vi! Foi assim com o museu da Acrópole em Atenas… que não vi… Foi assim com muitos outros itens afins… que não vi! E não posso dizer que tenha viajado em época baixa, infelizmente. Sofri quase sempre as agruras de Agostos quentes e abafados e o pulular de turistas, como eu!]
Quando entrei, há muitos anos, na Basílica de S. Pedro, não era a proximidade papal que procurava, com toda a certeza, nem outras iguarias monumentais. Era mesmo a escultura da Pietá. Imaginava-a como sempre imaginei o que nunca encontrei – enorme e imponente!.Pois bem a procurei, sem saber onde a encontrar. De facto, reparei nuns imensos panos brancos, à entrada, do lado direito, mas avancei, certamente, convicta de que não iriam pôr tal escultura quase atrás da portada principal e muito menos que aqueles imensos lençóis escondiam o que eu queria ver. [Começou aí o meu Karma com as obras de manutenção em monumentos…]
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Andei perdida pela vastidão da Basílica, sem achar grande interesse em nada mais… Talvez porque não estava a encontrar o que queria? Talvez porque as pessoas me distraíam e me faziam lembrar o episódio dos vendilhões do templo [que a minha mãe contava quando era minha professora, no tempo dedicado à religião e moral, que era obrigatória… e me fazia desejar que aparecesse o verdadeiro senhor do sítio e os pusesse a correr dali para fora!...]?
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Já as minhas parceiras de viagem estavam de saída, prontas a papar mais uma visita, quando me lembrei de perguntar, na entrada, agora saída, num italiano aprendido naqueles poucos dias – mas, afinal? Onde está a Pietá de Michelangelo? O guardião do templo respondeu de forma antipática e peremptória que não podia ser vista. Estava em obras de manutenção, por detrás dos panos brancos..Não saí.
Dei meia volta.
Enfiei-me por entre os panos.
Escolhi mal a entrada.
Enredei-me e fiquei presa.
Consegui soltar-me, afogueada e claustrofóbica..Quando olhei, finalmente, estava em frente à Pietá!…
À volta, homens e mulheres de bata branca andavam de cá para lá com instrumentos que não percebi o que eram. Outros estavam sobre a escultura, do lado direito.
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Viram-me, certamente, como eu os vi. Não disseram nada. Não soube porquê. [Ou percebi, mais tarde...] Desviaram-se da escultura, suponho que para me deixarem sozinha naquele momento único de contemplação estética. [Com o passar do tempo tentei imaginar a minha descompostura, despenteada e de olhos esbugalhados, depois de lutar com tantos panos e nem sei como não os assustei… Em vez disso… não me denunciaram e partilharam o que estava escondido.]
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A Pietá era muito mais pequena do que eu a imaginava. No entanto, pouco importou a dimensão. Pouco importou o mármore branco, que deveria tornar gélidas as duas figuras.
Senti os olhos cheios de água perante a ternura da figura maternal, tão jovem e tão impotente, com um filho morto a escorrer-lhe do colo, sem esperança.
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De repente, apercebi-me da gentileza daquele grupo e que deveriam ser restauradores de obras de arte. Limpei os olhos com as costas da mão. Agradeci em italiano e deixei-me conduzir à saída e/ou entrada certa, por entre os panos..Apanhei um correctivo do guardião do templo, que vociferava palavras que não anunciavam nada de bom para mim. [Afinal, fui eu a escorraçada, não os vendilhões.]
Corri pela escadaria com o coração aos saltos, sem saber bem a razão. Roubei a Pietá? Acho que não. Mas vi-a na sua forma mais pura, destronada do púlpito, rodeada de panos brancos e sem altar!.Penso que foi a minha primeira experiência de contemplação estética. [Que nada teve a ver com o facto de a Pietá poder ser catalogada como Arte Sacra. Bem pelo contrário… com um material tão frio o autor conseguiu transmitir-me um sentimento tão humano e tão carnal – a dor maior – a morte de um filho.]
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Até hoje, continuo a admirar o gesto dos que me deixaram ficar…
Até hoje, uma obra de arte só o é, se me fizer suspender a respiração… e melhor é, se me fizer sentir um nó na garganta e um brilho húmido no olhar… se me fizer lembrar os homens e mulheres de bata branca que se afastaram para me deixar olhar!
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Michelangelo tinha pouco mais do que a minha idade [naquele tempo em que a roubei], quando aceitou a encomenda e a esculpiu, 23 anos, creio.
.Nascimento e morte… natal e pietá! ...
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domingo, 9 de dezembro de 2007

Intervalando...


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Vou entrar numa espécie de quarentena.
Será a última semana de aulas [onde já aulas não são...], mais a seguinte, com reuniões e auto-avaliações e toneladas de papelada e verificações e conferências de mais papelada e preparação de fichas e cronogramas e afins...
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Lá para dia 24, acho que conseguirei desligar-me de tanta azáfama e espero não me esquecer de nada. Pois, por muito pouco relevante que considere todo este trabalho insano, é o que eu faço... [Julgava que me tinha libertado da burocracia e do papel/formulário... mas, como me enganei!]
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Já estou a roubar tempo ao tempo de me pôr a "preencher", por isso, suponho que este post será uma despedida até depois do natal. [Que também é uma época de marasmo gastronómico para mim e de uma trabalheira doida para quem vai ter que cozinhar todas aquelas iguarias que me são indiferentes.]
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É nestas alturas que a minha vida me parece muito insignificante. É a escadaria pequenina e deslavada com que começa este até breve.
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P.S.: E um bom Natal para os meus amigos e para os amigos do Natal.
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Foto retirada da net e modificada