sábado, 29 de março de 2008

Dos [bons] regressos!...

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Mais uma vez, um dos meus recantos preferidos, agora, com um ar de Primavera, que espero reencontrar.
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Não lhe falta um vaso de rosmaninho, que me faz lembrar o planalto de Castelo Branco e as serras da Beira Interior, com os aromas da minha infância... [nos passeios com a minha avó e, mais tarde, com o meu filho, nos anos em que dei aulas por aqueles sítios].
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Nos pneus velhos e reciclados, para o efeito, também cheira a alfazema... [E havia abelhas enormes que me deixaram aproximar o suficiente, ocupadas que estavam a recolher o pólen.]
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Estes recantos, que me encantam, estão atrás destes cacifos que ainda deixam ver a árvore que se transforma, ciclicamente, em todas as épocas do ano e em todas as partidas e regressos...
[Um dia..., vou ter saudades destes instantâneos, certamente.]
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dedicadas à Marta, Fotos de recantos escolares

Amanhã continuo... porque hoje é quase madrugada.


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Cheguei demasiado tarde a casa, em mais um dia de muitas saídas e entradas.
[Pelo menos, pus em dia a vacina anti-tetânica, que devia ter tomado em 2004 e conheci a médica de família do Centro de Saúde que, finalmente, depois de alguns anos de espera, nos foi atribuída. O braço esquerdo lateja, mas é o menos...]
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Em fim-de-semana, com a perspectiva, mais do que certa da segunda-feira, era um recanto cor de rosa que me apetecia ter à minha espera.
Assim, encontrado por acaso, por de trás do verde escuro de uma folhagem bem densa [como se estivesse ali, só para mim...].
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Vou pensar nos breves momentos em que foi só meu e vou dormir.
Farei várias inspirações e expirações profundas [mais longas as últimas do que as primeiras].
Amanhã, espero acordar com alguma vontade de preparar o regresso, apesar da dor no braço e das tarefas para ultimar.
[Os últimos dias insistiram em não me deixar trabalhar. E eu, sem paciência para os contrariar, deixei!...]
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Recanto em rosa, roubado por entre o verde escuro

quarta-feira, 26 de março de 2008

Nada como um pé desconfortável para não me esquecer de mim!


 
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Foto do meu pé-de-meia enrodilhada, na caminhada de domingo de Páscoa

Porque as Árvores morrem de pé....



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Vim corrida pela chuva, de uma caminhada a pé, pelas imediações.
Nada de especial para ver, num dia cinzento, frio e húmido: os velhos encostados às paredes dos cafés, sem mesa para jogarem cartas, no jardim do Marquês… os transexuais pouco vestidos e enregelados, que puderam passar a correr, sem ninguém para os acossar… as mães aos berros com as crianças, porque insistiam em sair debaixo de um guarda-chuva demasiado alto para as abrigar… uma prostituta, com um cliente a reboque e um saco de plástico enfiado na cabeça, para não estragar o cabelo acabado de sair do cabeleireiro, ansiosa por entrar numa das muitas portas das hospedarias do Marquês…
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Nem me cansei.
[O cansaço sinto-o, agora, sentada e trípede, sem saber como colocar as pernas numa posição cada vez mais habitual, mas inconformada.]Vim devagar, debaixo do guarda-chuva.
Imaginei como seria bom não pensar em nada.
Coisa inconcebível, vendo bem…
[Faltou-me aprender a meditação transcendental, quando praticava Yoga… ou talvez soubesse que não seria tarefa para mim.]
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Parei para comprar maçãs. Acabou-se a compota.
Compota de maçã e lâminas de laranja. [Ninguém come laranjas cá em casa, a não ser na compota.] Farei compota, mais tarde.
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Devia ter-me afastado daqui. Em vez disso, assisti às oscilações do tempo climático, arrumei documentação em dossiers, descobri que muitos sítios onde precisava de ir estiveram fechados, até ontem.
Dediquei-me ao estudo do X-File da avaliação de docentes, com as conclusões dos grupos de trabalho da minha Escola. Pensava que ia ler coisa melhor… paciência. [Não é num interregno, de alguns dias, que nos pedem sugestões por escrito, até 1 de Abril, só pode ser mentira! Trabalharam quase dois meses para sair isto… quem sou eu para sugerir modificações de fundo? Já decidi que não vou perder tempo com tal assunto. Daqui a dois anos, estarei noutra escola e ninguém me ouviu quanto ao que me espera. E a verdade é que estes deram o seu melhor - e os outros espero que sim - e que cada escola anda à deriva, a tentar trabalhar um documento original desconforme e sem comentários!]
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Não tratei de nada fora de casa, a não ser pagar uma acção de formação, supostamente gratuita, no último dia. Mais um compromisso semanal até às 21:30…
Os exames médicos, que fiz em Janeiro, aguardavam um médico para os avaliar, agora.
Faltou-me o tempo, nas últimas semanas, para constatar que foram de férias… [Em finais de Junho, tudo o que fiz estará fora de prazo.]
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Assim, sobram-me poucos dias, para lá dos úteis, para preparar as actividades lectivas do último período. Aqui ficarei, tão parada quanto este tronco de árvore, a inventar planos de aula e, já agora, mais umas grelhas de observação e registo [e outras artificialidades, inspirada na análise apurada do X-File], diferentes das que já utilizava, a pensar no portfólio do próximo ano, em que irei ser avaliada…
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Espero não me encher de líquenes fossilizados.
Espero não me esquecer dos alunos e das alunas.
Espero não me esquecer dos amigos.
Espero não me esquecer da família mais próxima e da minha mãe, que visitei ontem [e que já não via desde o Natal… parece estar melhor do que eu!].
Espero não me esquecer da compota.
Espero não me esquecer de mim, já agora.
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Fotos de árvore há muito cortada e descoberta no domingo de Páscoa

sexta-feira, 21 de março de 2008

A Paixão [de Cristo]...


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Novamente, esta é a minha Árvore da Páscoa... instantâneo conseguido entre reuniões e montanhas de papel. [É a mesma árvore de natal, que não está em minha casa... Estranhamente, tem o condão de se adaptar aos episódios bíblicos...]
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Esta copa lembra a coroa de espinhos de um Cristo cruxificado. Dizem que morreu por nós...
Durante os anos da minha infância nunca percebi tal sacrifício. Se Deus foi pai, não o queria para mim!...
Quem tinha olhos humanos para ver um filho morrer foi outro pai. Esse sim, deve ter-se afastado [porque não se fala dele durante os dias que antecederam o fim anunciado], talvez para não chorar lágrimas de revolta, por toda uma vida de enganos e mentiras e injuriar Aquele que lhe retirou, até, a paternidade biológica. [Tinha o nome do meu pai e chamava-se José.]
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Quanto à mãe, deve ter sofrido, pois claro, mas sempre desconfiei de uma mãe que deita o filho completamente nu, recém nascido, sobre umas palhas de mangedoura, sem o tapar com o manto, para ser aquecido pelo bafo impuro de um burro e de uma vaca. [A minha mãe conta que nos meus desenhos de natal, cobria sempre a criança com um pano e a mãe aparecia de ombros descobertos...]
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Na idade em que se comparam as religiões percebi que um filho de um Deus, que se fez homem, que morreu por nós, faz toda a diferença: eis a única religião revelada!... [O catolicismo precisava deste sadismo, para sair do Oriente e se tornar uma religião do Ocidente. É capaz de fazer sentido, para além de outras coincidências históricas, que não vale a pena relembrar, mas que terão a ver com o facto de gente mais poderosa ter utilizado a religião de um bando de pobres para tomar o poder político e económico, pois então!...]
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Páscoa foi o cansaço destas últimas semanas, para mim...
Páscoa é o anúncio da primavera nestas heras verdes, rastejantes e parasitas...
Não deixam de ser lindas e verdes, subindo pelos troncos, alimentando-se do que encontram [tentaculares e mais rápidas que a própria primavera...]
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Assim parece ser. Não gosto da ideia de alguém ter que morrer por mim.
[Não gosto da ideia de me sentir verdejante por comer o corpo de Cristo e beber o seu sangue... Nunca gostei.]
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Instantâneos de um jardim interior, numa quinta-feira santa

domingo, 16 de março de 2008

Junções e (dis)junções...


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São marcas de um chão que, ontem, pisei.
Junções e (dis)junções...
... Metáfora da reunião, quase secreta, para a qual fui convocada a participar...
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Curiosamente, quando cheguei a casa, já tarde e demasiado cansada [com este à parte na rotina habitual dos meus sábados... e domingos], não trazia uma reportagem da reunião, ou do jantar que se seguiu.

Trazia pedaços do chão que pisámos, dos objectos pousados nas mesas, das colunas que fazem de pilares da galeria.
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- Quando apareces? - perguntaram na despedida.

- [...] - terei (não)respondido com um sorriso tristonho e de circunstância [a alguém que me é tão caro, apesar das nossas pequenas (dis)junções, também elas, circunstanciais].
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Para responder teria que mudar tanta coisa no meu quotidiano [na minha vida]!... Por isso, [...].
Mas foi um grito que não gritei [não seria o lugar..., nunca é o lugar para gritar].
É essa mudança que me engasga e se prende na glote todos os dias.
Mudar. Transformar. Fechar portas para abrir portas [eu sempre detestei portas].
Normalmente, portas fechadas são espaços que não visito, ou revisito, nunca mais...
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Pisar outro chão, com junções e disjunções, fez-me ver a urgência de inventar o tempo para mudar. Fotografar as colunas brancas fez-me perceber os meus esforços monolíticos de todos os dias que passam e pesam e cansam [e pouco mais haverá a dizer...].
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Mais uma vez, o que é urgente e não é resolvido como tal, perderá o carácter de urgência e passará a pendente. Se não me acautelo, com o tempo que passa, acabará por ser assunto que o próprio tempo acabará por resolver, entalado na minha glote e sem a minha intervenção.
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[Relembro uma espécie de máxima, num contexto diverso, de um Outro, com o qual também partilhei (dis)junções circunstanciais e que está muito para lá de uma porta bem fechada, essa sim, por nossas intervenções deliberadas, ainda que, em momentos diferentes...]
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Fotos de uma noite diferente

quarta-feira, 12 de março de 2008

Quarta-feira entre Festas...




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Ontem, a minha única sobrinha fez anos.
Amanhã, a minha única sobrinha fará a festa de aniversário.
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Ontem, cheguei demasiado tarde.
Amanhã, chegarei demasiado tarde.
Hoje, quarta-feira, entre as duas Festas de Aniversário, é demasiado cedo e é demasiado tarde...
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Para a minha única sobrinha é sempre a tempo e é sempre o tempo [compraz-me pensar que também já fui assim... e que, em tantas pequenas coisas, me revejo nesta menina quase a deixar de o ser...].
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E é linda a minha única sobrinha...
Tenho saudades das poucas noites em que ficou na casa da tia.
Pequenina, ocupava toda a cama imensa de casal.
Deixava-me a dormir num canto...
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Pela manhã, acordava com o cabelo loiro... loiro... todo revolto e pedia ovos mexidos para o pequeno-almoço.
O meu filho olhava-a, desconfiado [também mais pequeno, mas sempre mais velho e maior], a imaginar um dia de ciúmes silenciosos, que já começara na véspera, com o roubo da cama da mãe.
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Depois, mesmo chuviscando, o prometido era devido.
Rumo à praia...
conversas com todas as crianças...
abraços e beijos em todos os cães...
primeiro, descalça...
depois, meia despida...
Porque o sol fazia-lhe a vontade!
E aparecia... quente e ameno
para não queimar a alvura
da pele, branca... branca...
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Parabéns distantes
para a minha
única sobrinha.
[Não no espaço... mas no tempo.]
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Foto de uma vida nova e curiosa à procura de tudo e de nada

domingo, 9 de março de 2008

"Le corps morcelé"





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[Averiguações de um Eu]
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"No recurso que preservamos do sujeito ao sujeito, a psicanálise pode acompanhar o paciente até ao limite extático do «Tu és aquilo», onde lhe é revelada a cifra do seu destino mortal, mas não está no nosso único poder de analista conduzi-lo ao momento em que começa a verdadeira viagem."
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in, O Sujeito, o Corpo e a Letra
Ensaios de Escrita Psicanalítica
1977, Jacques Lacan
O Estádiodo Espelho como Formador da Função do Eu
Ed. Arcádia
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De todos os cenários possíveis, imaginados pela minha mãe, para a suposta inteligência da sua filha mais velha [que iam das Belas-Artes às Matemáticas Puras!... boicotando-me, sem sucesso, o estudo solitário da História, para mudar das Ciências para as Humanidades, inusitadamente...], ser psicanalista foi um deles.
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Ao ler esta frase de Lacan, entre muitas outras [em leituras transversais, como tranversal é a Filosofia...], definitivamente, cortei-lhe a esperança.
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Esperança... foi o que eu não consegui ler nesta frase, embora pudesse estar lá.
[Continuo a achar que não está].
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Retalhos de uma árvore que não leu Lacan

sábado, 8 de março de 2008

"En passant"...



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Numa época de aberrações, mandos e desmandos, até a natureza se descontrola...
Não é que descobri a árvore das vassouras, perto de minha casa?
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Nem floriu!
A vassoura estava ali, pronta a ser colhida.
[Mais que madura! Tinha um ar de que iria apodrecer entre os ramos se não a colhessem depressa.]
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Noutros tempos, subiria aos insólitos galhos e colhia-a.
Agora não.
Deixo que a aberração ali fique e dê que pensar, en passant.
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[Ou terá sido uma bruxinha distraída, desorientada ou doente, que a deixou cair, em pleno voo, destrambelhado, certamente...]
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Foto da árvore que dá vassouras, perto de minha casa

segunda-feira, 3 de março de 2008

Vida de faz de conta...



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Esta loja, de louças e acessórios sanitários, sempre me fascinou!....
Os bonecos têm um ar terrível e assustador, cada vez mais.
Uma vida de faz de conta, numa montra a caminho das Antas...
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Desta vez, não resisti. Há sempre demasiados reflexos de luz no vidro, quando passo..., mas consegui apanhar o quadro. [Normalmente, quase que encosto a cara, para ver os detalhes.]
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Aos anos que ali estão!... [Devem limpar-lhes o pó, raramente. O acesso parece difícil...]
As persongens estão a ficar com um semblante carcomido pelo tempo, como se tivessem envelhecido, realmente..., no entretanto.
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Antes que mais uma loja feche neste quarteirão [cada vez há mais lojas a fechar, por aqui, como em todo o lado], fica imobilizada esta vida de faz de conta.
Fiz parar o tempo?
Não há mais pó que se acumule...
Estas personagens, que lembram já a morte, não envelhecem mais...
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Foto de uma montra ao dobrar de outra esquina, perto de casa

domingo, 2 de março de 2008

What comes up must come down...

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[Metáforas]
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Hoje, acordei demasiado cedo
novamente.
Desci as escadas
Bebi um café com leite
bem doce.
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[Ontem, cortei as pontas cansadas do meu cabelo.
Desci e subi. Subi e desci e por aí.]
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Agora, vou subir as escadas.
Acordarei formalmente
Debaixo de um chuveiro
bem quente.
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Ontem: sol
Hoje: chuva
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Dia sim.
Dia não.
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[Amanhã: sol...]
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Foto antiga de umas escadas em caracol, que subi e desci e subi e desci e...

sábado, 1 de março de 2008

Pomba... ao sol


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No meu passeio de hoje, também encontrei uma pomba ruiva, bem nutrida e com um ar feliz...
Foram as sombras dos ramos das árvores que cativaram o meu olhar... mas, havia pombas por todo o lado.
Voavam sobre nós em voos picados, não sei porquê.
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[Aqui em casa, acham os meus posts deprimentes, por isso, aqui está ela.]
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Não chorava há muito tempo. Mas, enfim...
Parece que chorar é sinal de debilidade. E é Um Ar De qualquer coisa que nunca me ficou bem, pelos vistos, ou como está visto.
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[Do que não gostei, também, foi do sabor salgado e doce do café com leite.]
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ao sol das duas da tarde, Foto de uma pomba ruiva

Pomba ferida, de asa caída...



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Acordei como esta pomba. Ferida e de asa caída...
Saí da cama, em sobressalto [talvez à espera de ouvir um despertador que se esqueceu de tocar e vou chegar tarde!...], a pensar que a minha vida mais próxima vão ser estes acordares repentinos e dolorosos, em que tudo me dói e me falta força para mudar seja o que for.
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Não... Nada nem ninguém me compensa pelas minhas quartas-feiras perdidas a inventar trabalho.
Pelo contrário, as quintas-feiras vêm dizer-me que sou uma completa imbecil, que perde horas úteis para ter resultados inúteis... A meio da aula, mudei o tom [também eu tenho direito de não ter vontade de estar ali, no meio de gente com idade para ter alguns propósitos e juízo], desliguei o PC e o projector e perdi a vontade de continuar...
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Sendo assim, perdi dois dias da minha vida, perdi saúde, perdi o pio, fiquei com a asa ferida, mas regressei a casa [à hora do costume, que é bem tarde], para voltar às 8 horas e 25 minutos, na sexta-feira.
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Hoje, acordei com dores na asa e sem qualquer vontade de voar, mesmo que pudesse, ou mesmo que quisesse. [Como esta pomba, que andava aos círculos e inquieta, triste, de asa caída... num passeio de betão, perto daqui, cinzento, quadrado e aos quadrados.]
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Antes de recomeçar a perder mais tempo com a inutilidade inevitável da minha vida, apeteceu-me prestar uma homenagem a uma ave que não voa [como eu, que não faço quase nada do que imagino que gostaria de fazer, porque só imagino e já não sei].
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A pomba lá ficou, aos círculos... Eu fiquei a pensar que me sinto num beco sem saída.
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[Hoje foi um acordar de lágrimas silenciosas, das quais só senti o sabor a sal, misturado com café com leite.]
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Foto de uma pomba perdida na cidade