quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Porque hoje é quarta-feira!


.Não queria deixar passar mais uma quarta-feira, daquelas em que trabalho, afincadamente, em casa. [A anterior, gastei-a de forma perdulária, porque tinha que ser… mas ficou-me um amargo de boca.]
.Tenho montes de testes para corrigir e, como sempre, aulas para preparar…
Entretanto, apesar de me ter levantado bem cedo, pouco fiz quanto ao assunto.
.Resolvi guardar um tempo para mim mas, em vez de esticar o colchão e fazer umas posturas de ioga [isso corresponderia mais à ideia inicial], andei no meu rectângulo de relva a retirar os bocados de musgo, que as pombas fizeram o favor de revolver e revolver e revolver! [Suponho que procuravam minhocas e congéneres. Apesar de sair de noite e de noite, ou quase de noite, conseguir regressar, à luz do dia o espectáculo era assustador...]
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De facto, não ficou muito melhor. É um relvado cheio de peladas de terra, sem a uniformidade do verde… Pelo menos, retirei 4 sacos de musgo seco.
Agora, tenho a recompensa das dores nas costas, nas pernas, no pescoço e pouco me apetece fazer.
.Mas queria escrever sobre aquelas ideias que me assolam, sempre que faço trabalhos deste tipo, que me deixam tempo e espaço para magicar, em vez de relaxar e apreciar, neste caso, os cheiros da terra e da relva..Já deu para perceber que estive em outras lides, que não a Escola, ainda que a trabalhar para o mesmo Ministério. Regressei, depois de um interregno de 10 anos [que não devia ter consentido, mas não consegui dizer um não bem redondo, quando foi o tempo certo…].
.Por isso, também, tudo é novo e não tenho planos de aula que possa tirar da cartola, tipo ilusionista. [Também não sei se seria capaz de me repetir todos os anos… acho que não.]Por isso, também, algum desânimo com a qualidade do que se anda a ensinar, a forma como se ensina e a forma como se avalia. [E não gosto daquilo em que se transformou a chamada relação pedagógica, por exemplo.]Por isso, também, muitas outras apreensões… [que tento desculpar aos outros e a mim, de vez em quando, porque não estive presente, quando podia ter tomado a decisão de voltar há mais tempo, nomeadamente!].Como se não bastasse e eu sabia de antemão, também a forma como os professores vão ser avaliados e escrutinados vai mudar. Provavelmente, só em volume de papel e formulários, porque as mentalidades não se mudam com Leis, Decretos-Lei ou Decretos Regulamentares. [E, isso, foi uma experiência quotidiana que verifiquei, quando estive do lado de lá…].E lá porque este meu blog é muito mais diário do que outra coisa qualquer, todas as coisas acabam por tocar na ética, na política, na estética e por aí… Por essa razão, hoje, apeteceu-me falar deste assunto..Não estou preocupada, particularmente, comigo. [Se calhar, deveria estar, já que não vou escapar ao turbilhão, embora confie no meu parco bom senso. Descartes não dizia que era a coisa mais bem distribuída? Sempre achei que estava a ser cínico, q.b., mas pensemos que não!]
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Preocupa-me o laissez-faire-laissez-passer do costume. Durante uns tempos vai ser assim… Depois, instala-se o pânico, que também terá a ver com a ignorância consentida de muitos, que se recusam a ler com os seus próprios olhos e a respectiva e necessária massa cortical… e começam os mal-estares e os maus-estares. Sim, porque em matéria de good breeding, também nesta profissão, há de tudo um pouco [e às vezes demais, como nas outras!].
.Por agora, esperam. Até percebo porquê. Há tanto mais que fazer!... As aulas não vão ser interrompidas, os horários mantêm-se….
Sendo assim, eu que já li o que há para ler sobre o assunto, mas não tenho voto na matéria, nem assento em Conselhos Pedagógicos, vou dedicar-me as estas tarefas urgentes. [Que serão, sem sombra de dúvida, matéria para avaliação!...].Amanhã é mais uma quinta-feira, a percorrer o cenário da foto…
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Foto dos meus caminhos... 

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Das flores silvestres...


.Passei a manhã sentada em aulas de testes [e a tarde também…]. Alguns blocos de 90 minutos, nesta modalidade, correm bem, outros nem tanto.
São aulas de que não gosto, mesmo nada.
.À hora de almoço, antes de ir até à cantina, resolvi sair, para andar um pouco e descobri pedaços de relvado com aquilo a que eu chamo margaridas selvagens..Em Março, na Beira Interior, colhem-se muitas e juntam-se, com o pedúnculo do mesmo tamanho. Fazem-se uns bouquets sumptuosos.
Por lá, chamam-lhes flores silvestres e há uma quantidade e variedade incomum, onde predomina o amarelo, o azul anilado e o lilás..Ora, esta pequeníssima margarida, assim como outras, estavam solitárias no meio do verde, numa inversão das cores que eu mais gosto nestas flores: margaridas amarelas com olho verde..Também encontrei canteiros com amores-perfeitos, arranjados pelos jardineiros da Câmara [enquanto têm orçamento para estas veleidades…]. Mas não são os meus preferidos.
.Esta flor fez-me pensar que tenho feito um esforço por vencer o cansaço [que se abate, violento e incómodo sobre a minha pessoa, quando chego a casa], que tenho tentado, veementemente, fazer pequenos intervalos para retemperar forças e reparar nas pequenas coisas, à minha volta. Ando de máquina fotográfica na mochila e gravador….Não, não estou a produzir nenhuma investigação etnográfica, nem tenciono escrever qualquer tese sobre alguma matéria afim..
Acho que estou, muito simplesmente, a aplicar uma auto-terapia… Logo, resta acrescentar que talvez me sinta doente!
Uma doença daquelas
[daquelas que se desdobram em sintomas e que ninguém sabe o que são e que acabam com o nome de síndromes de não sei o quê!]
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De qualquer forma, esta flor solitária, quase insignificante, num pequeno passeio [também ele solitário e quase insignificante], fez o meu dia!
.O que diria um(a) psicoterapeuta, profissional e diplomado(a), deste meu imenso esforço, para encontrar o contra-peso para dezenas de folhas de testes que também trouxe comigo?.Não sei... Talvez me congratulasse por, finalmente, ter descoberto a importância das pequenas insignificâncias para ser feliz. E talvez me incentivasse a continuar nos meus passeios, a tentar encontrar-me a mim própria… E talvez acabasse a consulta, perguntando – E, então, não acha que se sente melhor?.[se me passasse pela cabeça gastar o tempo e dinheiro desta forma, não querendo mandar para o desemprego estes técnicos de saúde, obviamente], eu responderia:- Sem dúvida! Muito melhor. – num tom de assertivo bluff, que mais bluff não poderia ser….Os testes aguardam uma correcção meticulosa [nada prometedores de eloquência, pelo que me foi dado observar…] e a margarida está aqui, pronta a ser partilhada – solitária, quase insignificante e selvagem... se conseguirem vê-la... no meio do rectângulo verde... como eu a vi... num passeio... solitário e quase insignificante...
.Não teria sido capaz de a colher e trazer na mão. Lá ficou, não muito longe dos amores-perfeitos..
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29 janeiro 2008, Foto de um pedaço de jardim público

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

"A School with a View"...







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Hoje esteve um dia de falsa primavera...

A viagem foi feita à mesma hora.

Começou com a luz do sol, ainda que tímida e filtrada por alguma neblina.

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Resolvi sair num dos muitos tempos mortos da manhã e consegui ver o mar ao fundo desta pequena avenida, em frente ao portão principal, depois de atravessar o jardim e a praça.

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Tem nome de filme - Escola com vista para o mar [lembrei-me de "Quarto com vista para a cidade", "A Room with a View"...]

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E achei simpática esta analogia.

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Mais uma história que se inventa, para tornar o dia mais sorridente [com Um Ar De sonho, que não tem, definitivamente, mas faz de conta...]

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Depois, no final da tarde, a saída e o regresso.

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Porque... amanhã há mais.
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sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Pégaso... objectos, projectos e histórias!...


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Há meses que este objecto não passa de um projecto, ao fundo do jardim, na oficina..
Vejo-o da janela, aqui deste lado, dentro de casa e dei-lhe este nome, nem sei bem porquê. [Ou talvez saiba: a sensação mais próxima de voar e ter asas foi-me dada a conhecer por uma égua branca, há mais de dez anos, na Beira Interior… e o gesso também é branco, branco…]
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Nada como um título, para uma obra fazer sentido. O título sugere a história. E as pessoas precisam de histórias.
Eu também preciso de histórias. Não serei diferente das outras pessoas. Porque seria?
.Ainda sinto a falta de uma história, antes de adormecer..
Para não adormecer, nas viagens de carro, invento histórias. [(…) que vou esquecendo à medida que me aproximo do Porto e do movimento do início da noite. Tenho preguiça de ligar o gravador e falar para ele. Sobretudo, tenho medo de já não conseguir fazer mais de duas coisas ao mesmo tempo.]
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Inventei muitas histórias para adormecer o meu filho, daquelas que tinham continuação de uma semana para a outra, de tal modo se tornavam misteriosas e se enchiam de novas personagens, cada vez mais cheias de História [que ele fazia questão de me (re)lembrar o nome e como tinham entrado em cena…]. O sono não vinha depressa, mas era um tempo que sabia bem aos dois e, disso, estou quase certa..
Não é saudade o que me faz lembrar estes adormeceres.
O filho cresce e cada dia é uma novidade maior que não me deixa espaço para o saudosismo.
Também não espero, que um dia, seja ele a contar-me histórias para eu dormir.
.Todas as noites, tento adormecer no meio de uma história. E não é raro acordar no meio de outra….Algumas acabaram escritas e andam por aí, guardadas não sei onde…Agora, não teria tempo para as escrever..Mas não é a mesma coisa quando adormeço a ouvir…
Porque ainda sinto a falta de uma história, antes de adormecer.
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foto manipulada por um ar de, Projecto de escultura de João Carqueijeiro em gesso

domingo, 20 de janeiro de 2008

Como o cão de Pavlov?


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Marcos nos passeios.
Proibido.
É proibido estacionar viaturas, obviamente.
.Proibido.
Agora parece que volta a ser tudo proibido.
Estes marcos dizem – é proibido.
.O problema está no que é proibido, mas não é afirmado, assim.
Não é permitido isto, não se pode fazer aquilo, só pode ser feito desta maneira…
Existe o normativo x, o y e o z… que nos esclarecem sobre o que não é permitido, isto é, sobre o que é proibido.
.Ah, e como deve ser feito!...
É assim que deve ser feito! Ponto final. Parágrafo:
Logo, fazer de forma diferente não é permitido – é proibido.
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[E ando eu a discutir com os meus aprendizes de filosofia o determinismo e o livre arbítrio e ao mesmo tempo a reproduzir o discurso da proibição!... Que bluff, que hipocrisia…]
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Entretanto, fumo os meus cigarros do lado de fora da escola, ostensivamente, ao lado dos alunos que fumam os seus cigarros, ostensivamente, do lado de fora da escola. E criam-se cumplicidades estranhas, que nem sei se me desagradam [já que tantas outras são proibidas].
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Em casa, preferencialmente, sou instada a fumar debaixo do exaustor [as janelas são demasiado grandes para se abrirem no Inverno…].
Fôramos nós, humanos, como o cão do Pavlov e bastaria ligar o exaustor, ouvir o ruído irritante e monocórdico do electrodoméstico execrável… e eu pouparia imensos cigarros e desgaste pulmonar! Mas não somos.
Pelo menos, essa forma de condicionarem os nossos comportamentos não será estratégia para outras proibições.
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domingo, 6 de janeiro de 2008

O chão que piso?


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Este parece ser o chão que piso.
Mas será que sei, como ando a percorrer as superfícies que piso e repiso?
.Acho que não. Diria, mesmo, que não!
Os dias continuam a passar por mim sem eu sentir que participei, realmente.
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Tenho-me queixado de falta de autonomia... que dependo de tudo e de todos para realizar seja o que for. Parecem-me queixinhas pardacentas para me desculpar desta má notícia que me estou a dar [e que se anuncia há uns tempos largos, com muitos disfarces e inúmeros sintomas, que eu, numa descuidada superficialidade, não quero ver].
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Certo é, que me parece ter perdido a capacidade de improviso. [Por vezes, dá tanto jeito e é a melhor resposta para o imprevisto, para a rotina, para a decepção, para o tédio e para a falta de vontade de lidar com os outros (e, porque não, admitir que me cansam, de uma vez por todas?)].
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É que eu não creio que exista improviso sem plano, da mesma forma que não creio que se invente a partir do nada. A invenção pressupõe um acumular de experiência que, de repente, pode transformar-se num novo sentido [assim, como uma espécie de insight].
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Perdi qualquer coisa fundamental, sem dúvida [terão morrido, precisamente, aqueles neurónios que me davam essa frescura mental para planificar e essa disponibilidade para inventar?...].
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Ou é mesmo uma imensa falta de vontade para continuar a fazer o que faço?.
Piso o chão. Repiso este chão.
E o tempo passa. É mesmo um perdulário… o tempo que passa.
[Como costumo dizer e desta vez não o digo a brincar, o tempo é um novo rico! E eu não gosto nada disso.]
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