sábado, 31 de maio de 2008

(Re)generar...



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.A natureza é fabulosa, em exemplos de regeneração cíclica!
Esta árvore, que há uns meses atrás, tinha a beleza do seu tronco rematado por gravetos, meticulosamente podados e minimalistas, aparece verde e triunfal nos últimos dias de Maio.
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Um Maio que me faz mal, com as oscilações climáticas constantes e as mudanças de luz intermitentes.
O mesmo Maio, neste dia cinzento, que a torna pujante e preparada para o movimento cíclico da Vida.
[Também admiro quem tem a capacidade de se auto-regenerar, assim. Tal como faço, ao contemplar a natureza, não invejo, admiro!...].
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Não resisti e fotografei-a, num instante, que não voltará a repetir-se, eu sei… porque vi esta árvore e todas as outras, imóveis e em serena transmutação, percorrendo três estações do ano. [Talvez, ainda as veja, em pleno Verão, se o Verão chegar, pois não me restam dúvidas, de que me aguardam, na sua mutável fotogenia.]
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E, enquanto andamos cheios de trabalho e cansados, olhar para estas árvores exemplares, faz-me sentir mesquinha e pequena e tristonha e um grão de pó numa engrenagem [muito inferior à Vida, muito aquém da Vida], que é a minha vida…
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Gozo os pequenos deslumbramentos da natureza, onde a consigo encontrar.
Faço as viagens de regresso, cada vez mais devagar, para olhar os campos…
Aguardam [eles e eu] as espigas de milho, que ainda espero ver despontar.
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Duvido que a Vida, para o meu trisavô republicano, montado na sua égua branca, significasse este deslumbramento da natureza que se renova.
Imagino que tenha tido ganas de virar as rédeas e abandonar uma vida que lhe esteve sempre destinada, por herança e não por sua escolha.
Sei que a Vida, para o meu trisavô, era outra coisa… Mas, não virou as rédeas e galopou para a capital… Ficou, não sem mágoa, decerto.
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[Pergunto-me, como resolveu ele o seu imenso enfado, o seu tédio refreado, a Vida deixada para trás, refeita em filhos, netos, bisnetos… e em mim, também?]
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Foto de 29 de maio, árvore dos meus passos em volta de uma escola

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Desafio(s) para mais uma Quarta-Feira




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.Não será por falta de assunto [logo numa quarta-feira!...], que irei responder a mais uma daquelas cadeias de desafios, desta vez, colocada pela Maria do Sol em Branco no Branco.
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Há que desvendar SEIS das coisas que mais se detestam, ou não se suportam, ou… por aí!
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Então e por aí… e porque não, a primeira coisa, que me ocorre, é que não gosto de pensar que estou a perder tempo [quase dói, ao saber a falta que me faz, nem que seja para dormir!].
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O resto, vem por acréscimo, como seria de esperar e a primeira nem conta:
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.Não gosto de conversas enfadonhas [por exemplo, reduzir o interesse de qualquer passeio às paragens gastronómicas, entre muito outros, afins… já que “nem vou, daqui ali, para comer!”, como diria a minha avó materna...].
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.Não gosto dos inevitáveis monólogos daqueles que já não sabem falar sem citar autoridades na matéria [ao ponto de nem mencionarem os autores, ao ponto de se apropriarem, mesmo!].
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.Não gosto de ouvir os bons conselhos, de quem não tem nada que me assente, mas é convicto, o suficiente, para não ver as minhas tentativas infrutíferas de fuga e desespero [assim, quando consigo afastar-me, a única que parece ter dado alguma coisa fui eu – horas e minutos preciosos da minha falta de atenção, entediada…].
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Não gosto da imprevisibilidade das minhas enxaquecas [para não falar da sensação enjoativa de ter que suportar o peso inútil desses dias e dos que se lhe seguem, conformada, mas não convencida…].
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Não gosto das obrigações cíclicas e festivas do calendário [se pudesse, fugia do país, nem que fosse para me aborrecer de tédio num sítio distante, nem que fosse para dormir…].
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Não gosto de ter montanhas de compromissos, que não posso adiar, quando a disposição é o cansaço, a vontade de sair de casa, só para me ouvir bater com a porta [sobretudo, porque não o faço… nunca o faço… apesar de os achar, cada vez menos, os meus compromissos e me dizerem tão pouco!].
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.Dito de outra maneira, talvez não seja pessoa de grandes ódios, nem de grandes amores, outros diriam... se dissessem... se os quisesse ouvir, também.
Não sou pessoa para gastar o tempo a odiar, desmesuradamente e sem tréguas...
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[O resto…, de momento, é quase nulo. Não posso dizer que não suporto, a priori, ninguém, ou nada. Por isso, gosto cada vez mais de pequenas surpresas e não me aventuro a pensar nas grandes, sobretudo, quando as pequenas surgem… inesperadas.]
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Foto que me veio parar em casa, infelizmente de autoria desconhecida

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Metáfora em verde claro-seco...



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As heras formam tapetes lindíssimos…
As heras têm uma tonalidade discreta, de que eu gosto… um verde claro-seco!
Mas, não deixam de ser o que são: parasitas!
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Não me iludem, apesar de tais peculiaridades.
Aparentemente, parecem fazer parte do todo... Curiosamente, escondem-no!...
Hoje, enquanto as admirava, ao longe [depois, ao olhar bem para elas], bem que as dispensava!
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Hoje, arrancava-as a todas!… Deixava respirar as árvores e o chão, finalmente!
Talvez, quem sabe, depois desta tarefa de jardinagem, pouco comum [um tanto ou quanto agressiva, reconheço(-me)!...?], também conseguisse respirar melhor e reconhecer o que elas teimam em esconder, num verde manso, de que até gosto… um verde claro-seco!
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[Lá continuam… como metáfora de mais uma segunda-feira, inconclusiva.]
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de 2008, Foto de heras num jardim interior

sábado, 24 de maio de 2008

Os dias que passam... da sobrevivência e dos pequenos predadores...


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O ano lectivo está prestes a acabar…
As próximas semanas serão de despedida para os alunos de 11º ano, a seguir para os de 10º.
Na despedida, ainda há testes para fazer e corrigir, trabalhos para avaliar e outros testes para entregar.
Depois, vem a infinidade de papel para preencher e grelhas para actualizar, com as reuniões de Conselho de Turma em perspectiva.
Ainda há o cuidado especial com a minha Direcção de Turma. [- Para quem se voltou a estrear, neste novo modelo de ensino, tens cada caso!... disseram-me há dias… Até parece que sim, que teria sido de propósito. Se aguentasse esta prova do guerreiro, teria passado no teste? Esquecem-se de que não se trata disso. Trata-se, sim, de cada caso!...].
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Parece que paira um ar de suspeição, quanto à minha continuidade, ou não… nos colegas, nos alunos, na direcção. De repente, as simpatias proliferam e algumas desculpas acentuam-se, fazem-se planos para a continuidade… e eu não sei!
De momento, nem me apetece tomar qualquer decisão, de tal modo me inundam de certezas, que eu não tenho e de trabalho que tenho, de facto. [Por isso, o relógio não pára e, se parasse, era muito mau sinal. Teria desfalecido e desistido. Ponto final.]
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Pois, a mim, o que me preocupa é, precisamente a continuidade. É não ver caras novas e rostos mais frescos, para o próximo ano lectivo. É estar tudo na mesma, ou pior, dentro desta ficção, que é a continuidade! Para além disso, o cansaço redobrado, as novas madrugadas e os tempos mortos [e obras na Escola, porque há que melhorar… mas, há que aguentar horários bem piores, porque o número de salas vai ter de reduzir], cada vez mais cursos profissionais e menos filosofia para dar…
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E, eu, continuo sem me decidir, se hei-de sair ou se hei-de voltar, enquanto espero mudar de Escola para o outro ano lectivo, supostamente, mais perto do Porto, supostamente, menos burocrática, supostamente, nada disso… ou até pior!
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Nesta manhã de sábado, enquanto aguardo uma nova cadeira, mais preparada para as imensas horas que passo, sentada, voltei a cortar as pontas do cabelo, como se isso me retirasse algum do peso que sinto sobre o corpo [que é muito superior ao da gravidade… porque não carrego sacos, livros de ponto, portáteis e projectores… são eles que me arrastam pelos corredores…].
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Podia aproveitar este fim-de-semana, que se anuncia chuvoso e feio, para fazer umas posturas de Yoga, finalmente… desenrolar o colchão, que repousa perto de mim há quase dois anos. Mas, será pouco provável…
Tenho uma turma de testes para corrigir, trabalhos para avaliar, testes para fazer, grelhas para adaptar [e roupas da casa para cuidar, coisa de somenos importância, vendo bem e cada vez mais]. Alguém há-de tratar de me alimentar, mesmo quando não tenho fome… apenas, o estômago apertado e a comer-se a si próprio, certamente.
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Depois… e então, tratarei de perceber se isto é só cansaço ou doença [ou tristeza…]. Depois! Quando a azáfama acabar. Quando deixar de sentir que os dias têm um cheiro de animal predador, mesmo que seja, por razões de sobrevivência partilhada.
Tenho o mês de Junho, em que ficarei um ano mais velha, para decidir se vou, se fico, se quero, se não quero [quando a pergunta também é: se aguento, se não aguento… e, isso, eu não sei… e muito mais!].
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Talvez consiga ler algum dos livros que me esperam, silenciosamente pousados nas prateleiras, para onde nem olho, porque quem me alimenta também se encarrega de lhes tirar o pó, que eu já não tiro, porque não tenho tempo e porque nem os quero ver.
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Não é uma sensação de depressão, daquelas que apelariam a psicotrópicos e afins. Não é. [Embora, seja típica a recusa a quem deles precisa...] As razões dos meus impasses são demasiado objectivas, têm nomes, têm rostos, têm motivos, enfim, serão do domínio do quantificável, até!...
Por isso, o refúgio tentador dessas panaceias não resultaria em qualquer melhoria.
Durante anos, fui os ouvidos de tantas razões semelhantes às minhas!... E era tão mais simples, advogar em causa alheia!... As minhas palavras eram bálsamo para ouvidos, que não os meus. Agora, por muito que tente repeti-las, não me assentam. Não me vestem. Não me cabem. Não são o meu número!
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[Mudei tanto, assim, em tão pouco tempo? Se, nem eu, me reconheço mais, sem precisar de confirmar nos espelhos, para os quais pouco olho… e mesmo que olhasse, de que me serviria? Os duches matinais são a correr e sem óculos. Vejo uma mancha vaga e misturada com vapor… Saio de casa, a correr, para não ultrapassar velocidades proibidas, na estrada.]
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de Isaurinda Brissos em www.olhares.com, Pequenos predadores dos dias que passam

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Pés no chão...


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Nada como um sono agitado, um acordar matutino... e uma enxaqueca [já anunciada, embora, sempre inesperada...], para sentir os pés no chão e a dor instalada.
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Se, hoje, tivesse conseguido sair... e fosse até à praia... ela estaria assim.
Os meus pés marcariam a areia molhada, tal e qual.
Voos? Adiados, mesmo.
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Se doeu muito? Não. Já não dói muito. O que dói, é nunca saber quando chega, irreversível. Desde a minha infância até agora, a farmacologia desenvolveu analgésicos potentes e bem direccionados ao cerne da questão.
Pena é, que a cura seja impossível.
Pena é, que a ressaca seja inevitável [quando não sei se é do fármaco ou da mazela!...].
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Pior fora, se tivesse sido como da última vez... em plena aula e a deixar de ver... sem poder fechar as pálpebras, fibrilantes e quase cegas, de tanto disparo foto-eléctrico.
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[Entretanto, há que continuar, porque o relógio não pára. Nunca pára...]
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de Pedro S.N. Costa, Foto retirada do site www.olhares.com

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Voos de quartas-feiras distantes…



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.Se alguma vez tive uma sensação próxima do voo, não foi dentro de um avião.
Aquela que mais se lhe assemelhou foi, sem qualquer sombra de dúvida, a experiência do primeiro galope, montada numa égua branca, que nunca mais esquecerei.
A outra sensação de voo, com um friozinho na boca do estômago, foi o nosso primeiro salto. O obstáculo parecia-me intransponível e não foi.
- Não foi, sussurrei-lhe ao ouvido, banhadas [as duas] em suores animais…
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Não sei se montar um cavalo é o mesmo que andar de bicicleta [e nunca se perderá o jeito…]. O que é certo é, que nunca voltei a montar aquela égua, ou outro cavalo qualquer.
Andar de bicicleta, andei. De facto, não perdi o jeito.
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No entanto, não me parecem experiências comparáveis. Ninguém conversa com uma bicicleta [embora, tenha feito a manutenção da minha, quando era uma rapariga a ganhar aos rapazes da rua, em corridas desenfreadas, em que as minhas pernas longas demais eram uma vantagem, sem grande esforço, que me obrigavam a trocar pneus, mudar travões, alinhar a direcção e por aí…].
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Não. Ninguém conquista a confiança e o respeito de uma bicicleta, como se conquista uma égua branca, nervosa e desconfiada, de tanto ser montada por gente que lhe dava instruções descabidas e contraditórias, muito antes de eu chegar…
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Em Idanha-a-Nova, na quinta do Marquês da Graciosa, fui encontrar um treinador do Porto, que me fez passar por uma iniciação única.
Pouco treinei no picadeiro. Passei, quase de imediato, para o meio dos campos e dos montes. E, coisa mais única, fez questão de me ensinar a tratar de cavalos. [Mal ele sabia, que acabou por me ensinar muito mais… aprendi a cuidar de todos, a saber o nome de cada pequeno artefacto, a escová-los, a ajudar a vaciná-los, a limpar a estrebaria, a ver recém-nascidos… a perder o medo e a ganhar a confiança…]
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Sou alérgica à maior parte do pêlo dos animais, até às penas de certas aves. Felizmente, não aconteceu com os cavalos.
Depois das aulas, durante toda a manhã, chegava de Alcains a Castelo Branco, vestia-me e lá íamos [filho e eu], rumo a Idanha-a-Nova.
Tardes inesquecíveis de outras quartas-feiras, de cheiro a cavalo e de posições de voo conseguidas!... [Não sem algumas queixas do meu rapaz, a quem os cavalos, em primeiro lugar, cheiravam a cavalo e cumpriam mal a função de meio de transporte…]
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Eram, mesmo, posições de voo…
Era, mesmo, a sensação de voar…
Era, mesmo, o animal e eu, feitos Um.
Eram duas criaturas, que aprenderam a confiar uma na outra, ainda que tivesse levado o seu tempo [quando o tempo não encolhia à medida que passava e todos os momentos pareciam eternos…].
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Regressada ao Porto, com saudades de uma égua branca, visitei todos os sítios onde podia voltar a encontrar outras éguas, outros cavalos… Impossível voar naqueles lugares estreitos e apertados. Impossível cuidar de outra égua…
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[Sinto-me tão, necessariamente, urbana… mas sinto-me tão, ancestralmente, ligada à imensidão do planalto de Castelo Branco, às profundezas da Cova da Beira, aos rios e riachos, por onde o meu trisavô republicano e, ostensivamente anti-clerical, deverá ter cavalgado, quem sabe, montado numa outra égua branca, com quem conversaria, também…]
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de Patricia Cohen, Foto retirada do site www.olhares.com

domingo, 18 de maio de 2008

Da fúria das palavras [ditas e cantadas]

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Leituras na Biblioteca...
[Intervalo].
Não procurei ninguém
mas, também andei
com algumas pessoas
na mesma escola
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[Velhos (des)conhecidos]
Palavras novas
escritas
ditas
cantadas.
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[Fim de intervalo]
Regresso a casa.
Pingas grossas de chuva
à entrada do Marquês.
Primavera adiada
gorada...
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[Obrigada à Undress, por esta sugestão inusitada, no seu último comentário ao meu post de sábado.]
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Fotos da Biblioteca da Fundação de Serralves

Domingo, apesar de tudo...


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Hoje, domingo
volta a estar assim...
um céu nublado
o chão molhado
o vazio dos sons
janelas fechadas
trinados adiados
o silêncio, enfim...
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Foto de céu nublado para um domingo que não é um qualquer

sábado, 17 de maio de 2008

Apesar de tudo, há sol...


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Apesar de tudo, há sol no meu relvado.
Os pardais e os melros apareceram...
O meu jovem vizinho treina árias no seu piano e prepara-se para os exames, como é habitual.
Ouço os dois trinados.
Preparo-me para trabalhar.
Adio a posição de voo.
Procuro reconhecer-me no espelho, rapidamente, pelo menos.
Serei menos eu...
Serei outro eu...
Serei eu...
[O tempo passa.
E eu, também.]
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Foto de uma flor que se reconhece ao espelho, retirada da net e modificada

Outros balanços para um sábado...


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Hoje, espera-me um sábado, no [desas]sossego da solidão, muito propenso a novos balanços.
Não fosse ter acordado com uma imensa dor de cabeça [que o analgésico talvez resolva] e, quem sabe, o dia poderia ser produtivo, isto é, poderia aproveitar para trabalhar e trabalhar e trabalhar…
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No entanto, de quinta para sexta, pouco dormi.
Sexta-feira, tinha um assunto urgente para resolver no local de trabalho, daqueles que perturbam demais… Havia que convencer altas instâncias de que o mesmo não podia ser resolvido de qualquer forma [e doa a quem doer], por envolver questões pessoais, que não eram minhas mas, de uma aluna e de uma coisa que, de família, só tem a designação.
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Parece que tivemos sorte, a aluna e eu. Convenci. Mas custou-me uma noite de sono e um dia a cambalear de cansaço, para além das diligências que terei que fazer, antes que o ano lectivo termine, utilizando o que não sei se ainda tenho: o meu best judgement.
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Precisava de ter tido mais tempo para pensar melhor e não tive… para alinhavar um discurso persuasivo q.b.. [No entanto, parece que o improviso funcionou e é o que interessa, embora, em assuntos alheios, não goste de confiar nesta estratégia desalinhada, acrescida de um cansaço profundo… E, quem sabe, não terá sido esse meu mal-estar que ajudou a persuadir... já que é impossível disfarçá-lo, de facto.]
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Pela primeira vez, dou-me conta do que significa este ficar em casa sozinha, não poder participar em acontecimentos que, dantes, eram habituais e que eram uma parte importante da minha vida [embora também fossem trabalho, de outra forma]. Também preenchiam alguns pequenos vazios
Agora, os vazios são muito maiores e lembram a aproximação de grandes buracos negros, apesar de o meu tempo estar cada vez mais cheio de compromissos inadiáveis. A agenda não chega para incluir tudo o que há para fazer!... Disperso por outras folhas e post-its, colados em tudo quanto é sítio…
Assim, vou-me esquecendo de alguns, apesar de tanto lembrete! [E fica uma sensação de quase incompetência, de pouco controlo sobre o que faço e o que penso...]
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Continuo a aproveitar as viagens para tentar ordenar ideias [para não adormecer, também]. Ouço as notícias na RFM, porque já não vejo noticiários.
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.Quinta-feira, no regresso, dei-me conta de que começava a ouvir a música do genérico do Oceano Pacífico. Olhei para o relógio do carro – 22:00 horas!
[Uma lágrima patética e depois outra…]
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O meu filho fazia 22 anos.
Ainda tive que jantar fora de casa, por assuntos que não serão mais meus, também, como os de hoje.
Ao dar-me conta do meu cansaço… da distância destes outros assuntos… de que tinha que acordar às 6:10 da manhã, com outros problemas para resolver [só meus, pelos vistos, porque – dás demasiada importância.!... – envolves-te demais!] … a ver as horas passarem… o meu filho em casa, depois de chegar das aulas… a meia-noite e meia... acho que percebi que alguma coisa importante acabou!
Assim, parece-me mais sensato não ir, não estar, deixar de querer fazer o que não posso.
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Talvez me envolva demais. Talvez dê demasiada importância. Talvez
Pode ser que aqueles que são importantes para mim mas, que não estão a maior parte dos dias comigo, sintam que é legítimo pensar assim.
Mas, o que parece ser uma certeza é que não estão comigo [nem teriam que estar, obviamente], para poderem entender o significado das minhas horas quotidianas e rotineiras e sem interesse, que são o meu trabalho, para o melhor e para o pior…
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De facto, como explicar o imenso desgaste a tentar gerir conflitos, multiplicados por dezenas de Outros não tão significativos [mas, também, significativos...]?
Ao mesmo tempo, há que tentar dar aulas e cumprir outras tarefas, com horários insanos, a ver a insanidade geral a começar a instalar-se [e, por isso mesmo, ali não estou sozinha…].
E, ainda, ter que exibir um semblante que inspire uma confiança que não passa de um bluff mas, que é necessária!...
Afinal? Onde começo eu e sou eu? Disperso-me por duas cidades!...
Apenas sei onde durmo e onde acordo… mas, por muito pouco tempo, mal me reconhecendo ao espelho...
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[O analgésico funcionou mas, deixou-me num estado de torpor, que não anuncia grande actividade intelectual ou física, para hoje… apenas um sono mórbido, prenúncio de enxaqueca anunciada, para daqui a uns dias… ou menos. Paciência.]
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Foto retirada da net e modificada, imagem distorcida de um jarro ao espelho

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Lembranças de uma outra quarta-feira...




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Há 22 anos atrás, numa quarta-feira, também... tive um dia cansativo demais, para uma grávida, prestes a ter o seu único filho.

[Foi de tal modo extenuante, que o rapaz deu sinais de querer nascer durante toda a madrugada, que anunciava o dia seguinte...]
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Amanhã, fará 22 anos, pelo nosso calendário ocidental, porque nasceu na quinta-feira...
Como mãe e filho estavam bem, o meu único filho, que poderia ter nascido ao meio-dia, nasceu às cinco da tarde - em ponto - aguardando que quatro meninas, muito afoitas e quatro mães, bem mais desesperadas, desocupassem a sala de partos. [Um sinal de cavalheirismo que o terá marcado para sempre, provavelmente...]
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Como é habitual, falta-me o tempo - hoje - para comemorar, devidamente, depois da meia-noite, tão importante acontecimento. [Amanhã, nenhum de nós o terá... - o tempo!...]
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Não haverá amores perfeitos, certamente, a não ser nos canteiros, onde estes repousam...
Mas, se existissem, em muito se aproximariam do amor por um filho, ou por uma filha [que não tive].
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Tive este único filho. E tenho este sentimento único. Nada mais se lhe compara.
Por isso, nem que fosse só por isso [por ser incomparável e único], em muito se aproximaria do amor perfeito!... mesmo que tal coisa não exista[?]... a não ser no nome das flores coloridas, que o ostentam.
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[Talvez..., porque queria um sentimento único e incomparável, nunca ousei ter mais filhos e nunca quis ter outros filhos... e sempre soube que seria um filho e não uma filha, não sei porquê... mas soube.]
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dedicada ao meu único filho, Fotos de canteiros de amores perfeitos

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Da fome e da sobrevivência, em sentido literal...

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Depois de ler o post no Relógio de Pêndulo, sobre a "Globalização da Pobreza", nada mais me ocorreu, no primeiro embate!
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Pobreza
Fome
[Criança... África Negra!...]
Abutre
Morte
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[Nada oponho ao conceito de globalização da pobreza. Mas, ainda há locais e locais...]
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aldeia de Suam região de Ayod, Foto de Kevin Carter 1994

domingo, 11 de maio de 2008

Porque há rosas e rosas...


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A diferença não está na cor...
nem no plano próximo
nem no mais distante
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Ambas reguei
com pingos
de água
fresca
da minha
[única]
nascente
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[Com estas rosas, todo o cuidado é pouco, toda a atenção é devida, toda a beleza é merecida... porque é delas!]
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Dedicado à Maria do Sol e à UnDress por razões diferentes mas igualmente belas, foto retirada e modificada de PowerPointFunshows

Omissões...



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Ontem, o céu cor de chumbo omitiu o compromisso, mais que visível, da chuva, do granizo e da trovoada!...
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Com a maior falta de consideração, pelos anúncios da metereologia, calou-se e não soltou uma pinga de água! [Incompreensível, no mínimo...]
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Hoje, os pássaros cantam no meu jardim, depenicam no meu pequeno relvado urbano [um quadrado verde que me esqueço de apreciar] e engordam de dia para dia...
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Hoje, com uma amabilidade que não esperava, o sol apareceu explícito!...
Fez-me esquecer a omissão de um céu cor de chumbo.
Afinal, as nuvens negras não tinham nada para anunciar, a não ser o seu silêncio e um sol de domingo.
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[E ensinaram-me a confiar no meu tempo e a desconfiar de outros tempos. Nada como uma boa omissão, para tornar o resto mais explícito... para afinar a posição de voo e apurar a trajectória.]
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Fotos de um acto falhado, sob um céu omisso

sábado, 10 de maio de 2008

Maçã, ostensivamente, em repouso...



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Just an apple a day...
[... could it keep hunger away?]
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.Da fome e da sobrevivência literal, foto modificada e retirada de powerpointfunshows

The movement inside...



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.Estou como o tempo… Instável.
Estou como o tempo… Em mutação.
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Na transformação, como gostava de sentir o movimento desta espiral – azul!...
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Opto por pensar que sim, embora todos os indícios me contradigam, me tentem (des)enganar…
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Não é teimosia. [Nunca fui obstinadamente teimosa.]
Não é optimismo. [Já fui optimista… por isso, sei.]
Não é necessidade [de sobrevivência literal.].
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Talvez seja, apenas, vontade de mudar. Vontade que ainda sinto [apesar dos indícios que me contradizem, que me (des)enganam].
Uma vontade triste mas, uma vontade.
Uma vontade contra o [meu] tempo mas, uma vontade.
Uma vontade contra o que parece inevitável… E sim, aí, muito se parece com a sobrevivência literal!
Por isso, triste…
Por isso, igual às outras…
[Mas, só por isso.]
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Foto retirada da net e modificada, movimento em espiral azul

quarta-feira, 7 de maio de 2008

The colour inside...


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Vermelho de sangue
Vermelho de veias
Vermelho...
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Vermelho de flores
Vermelho'em bandeiras
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Vermelho...
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Vermelhoque não visto
[por fora]
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Vermelho
que me corre
[por dentro]
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[Vermelho do sangue, que nos torna iguais e diferentes. Vermelho da dádiva. Vermelho da guerra e do guerreiro...]
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Foto retirada da net e modificada, vermelho de papoilas para uma quarta-feira

domingo, 4 de maio de 2008

Do aconchego das palavras...


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Para que servem as palavras?
Hoje:
[abraçar... aconchegar... acompanhar...]
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Foto modificada, retirada de PowerPointFunShows

Em posição de voo, à espera do sol...


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Hão-de chegar dias de sol
[de silêncio alado
enquanto espero]
em ansiosa
preparação
de posição
de voo...
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Imagem de pássaro, retirada de PowerPointFunShows

sábado, 3 de maio de 2008

Estetos[cópio] para uma sombra...


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.Talvez tenha chegado a hora de ouvir o meu corpo, que insiste em se manifestar, veementemente.
Se a mente o impele para a frente, sem dó nem piedade, nem pelo acidentado do caminho, sem o indagar se consegue acompanhá-la, numa viagem cujo mapa é cada vez mais indecifrável [e cujos contornos começam a esbater-se] – pois, terei que o escutar.
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Para aqui está, cansado, a tossir uma tosse ignorada, a doer uma dor adiada [a querer dizer-me que a viagem que escolhi lhe faz mal] e talvez não aguente mais uma subida íngreme, mais um dia de cargas e descargas, para nada.
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Talvez tenha chegado a hora de entender a sua falta de força, por não colaborar com a dona [como se de um animal se tratasse, porque sempre o tratei assim…], como se quisesse esquecer que também é sobre mim que escrevo, quando dele falo.
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Se me abandonar, a meio da viagem, o que é que faço?
Pois se vacila, já...
Pois se me envia sinais, que insisto em ignorar...
[Se me abandonar, o que é que faço?]
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Paro.
Finalmente, paro.
Talvez tenha tempo para desenrolar o mapa e perceber que pouco se lê da sua sinalética.
Que me enganei quando escolhi este e não outro…
Que as linhas desbotaram de tanto o abrir, à espera de encontrar o que lá não poderia estar…
Porque, não é este, o mapa da minha viagem!
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Não é.
Talvez pudesse ter descoberto antes. Talvez…
Mas…, preciso de perceber na carne, como é meu costume [até doer], o que houvera para perceber.
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Por isso, chegou a hora de devolver o mapa, a quem melhor uso dele possa fazer, enrolá-lo com cuidado, voltar a colocá-lo no sítio de onde o tirei. [Porque não consigo deixar de ser educada e estragar o que não é meu…]Antes de escolher um outro [se é que preciso de mapa, se é que preciso de obrigar o meu corpo a esticar-se, até à derradeira prateleira, onde a minha mente, já delirante, insiste em procurá-lo], hei-de pedir-lhe, gentilmente, se me ajuda a desfazer as malas desta aventura para a qual o arrastei…
Se me concede o favor de me acompanhar, pelo menos, no regresso e nos seus preparativos [ainda necessários]
E se me ajuda … a escolher a próxima viagem
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[Se me agarra o ombro, com firmeza, quando estiver a exigir um passo que não posso dar, para que abrande a caminhada… Se me endireita o pescoço esguio demais, curioso demais, nervoso demais, para que observe bem o caminho…]
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Auto-retrato

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Sombras de Fim do Dia...

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Foto de sombras de Fim do dia 25 de Abril de 2008