sábado, 6 de outubro de 2007

Pois, se somos feitos de pó das estrelas...


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Ontem, a minha cabeça voltou a sentir-se assim, esmagada, por um peso maior. Nova enxaqueca, nova viagem, para as entranhas!
Era feriado [how convenient...] e estava sozinha em casa.
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Embora tivesse mais com que me ocupar, tal como os ausentes, pude dar-me ao luxo de fazer algumas experiêncas com as ditas interrupções/irrupções no meu quotidiano.
Não tomei analgésico.
Não interrompi a tarefa que estava a fazer.
Não vi tantas manchas fotoeléctricas, enquanto deixei de ver o que fixava.
Durou menos tempo.
No final, fiquei cansada de tanto experimentar e adormeci no sofá.
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Acordei com uma dor enjoativa, mas suportável [e eu suporto mal dores de cabeça, pudera!], que também persiste quando tomo drogas paliativas.
E pensei - Já não é mau! Não tenho que me intoxicar com comprimidos fortíssimos.
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Quando o J. chegou e eu acordei, trocava varanda com corredor e tinha alguma dificuldade em diferenciar os significantes de frigorífico, exaustor e micro-ondas.
[Nada que me fizesse grande falta recordar, já que não fiz o jantar, dada a minha fraca condição... O J., na sua inocência de leigo e crente na nova medicação preventiva, ficou mais triste e decepcionado do que eu.]
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Mas presumo que lá se foram mais um neurónios... Talvez não devesse ter-me posto a dormir.
A sensação que tenho é a que se tem com os miúdos, quando eles batem com a cabeça e nós, adultos, não devemos deixá-los dormir e verificamos se não vomitam, se conseguem interagir normalmente, tudo isto com um saco de gelo em cima do hematoma, com eles a berrar que dói e que está frio!...
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No final da noite doía-me o corpo por ter estado tempo demais deitada e sem grande força para contrariar a modorra. Acabei a apanhar com mais umas ondas do televisor e do vídeo, porque queria voltar a ver um filme que quero que os meus alunos também vejam e anotem.
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E lá se foi mais um 5 de outubro, com honras para a educação, vinda dos célebres e ilustres, na nossa capital. Pois acho bem, se é que estávamos todos a falar do mesmo [que me parece que não...]. Também acho que é sempre fácil e útil falar do palanque!...
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Mas não. Para que não haja mal-entendidos, não os queria ver a eles, nas escolas, a dar no duro [queria vê-los a dar no duro onde devem fazê-lo!]. Só poderia ser um espectáculo deprimente.
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Até porque, duras... duras!, são as cadeiras onde os alunos se sentam, durante blocos de 90 minutos, vários por dia, por vezes, seguidos, com breves intervalos de 10 minutos para atravessar corredores e pavilhões, comer qualquer coisa no bar, ir aos lavabos, com os cacifos do lado oposto [sorte, enquanto os há!] e camionetas para apanhar, ao final do dia, que não esperam por quem se atrasa. Ponto final.
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Depois querem que não se dobrem, que não se curvem, que não de mexam, que não escorreguem para trás e para a frente, que não implorem que deixe sair 5 minutos mais cedo, por favor... e eu, na minha imperturbável falta de convicção, não deixo!... pois não fossem esses neurónios que me fazem cumprir estas regras a fundirem durante as enxaquecas!...
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Andamos todos com uma pedra imensa a prensar-nos as cabeças. Tanta evolução para estarmos, outra vez, tão próximos do pó das estrelas, no pior sentido possível. Sou mais parecida com aquele seixo do que com a minha irmã!
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1 comentário:

  1. Ainda te hei-de oferecer um livro que se chama "Pó de Estrelas", do Jorge de Sousa Braga, para ver se essas dores de cabeça amenizam.
    Fico triste quando escreves assim. Mas, por mais neurónios que aches que perdes, consegues ter muito mais que muito boa gente que se acha cheia deles...
    Bjs

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