terça-feira, 2 de setembro de 2008

Antecipações de uma Sombra...


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[Dos factos…]
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Ontem, vim da Escola numa espécie de estado de choque [não devo ter sido a única…].
Voltarei, amanhã, para o início dos meus [nossos] trabalhos…
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As árvores e os jardins, que me deleitei a fotografar, durante um ano, de quatro estações [das raras âncoras que me prenderam o ânimo], estão afundados em contentores, futuras salas de aula… e reina a demolição.
Porque haverá pouco espaço, muito barulho de obras e… tudo o que por aí virá, não trouxe um horário, mas trouxe um esboço de uma mancha horária, que presumo ser o resultado para evitar horários mistos e ajuntamentos… Assim, mantenho as turmas dos cursos tecnológicos e experimento, pela primeira vez, uma disciplina híbrida num curso profissional. Perdi uma turma que terá aulas de manhã…
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[Para além dos factos…]
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Não sou, certamente, uma optimista… a longa manhã de ontem serviu para o comprovar. Apesar de não me poder queixar da rotina de mais um ano, não era bem este tipo de mudança que me faria querer continuar.
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É certo que tinha dormido pouco… enganei-me com o despertador e acordei de madrugada [vou ter que me habituar, de novo, a este objecto execrável…]. Dei várias voltas ao quarteirão para conseguir estacionar o carro, porque o parque deixou de existir, obviamente, antecipando cenários futuros e similares…
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Hesito na vontade de voltar… Hesito. Este verbo persegue este meu retorno à Escola. Não fossem os alunos, concretos e singulares… e… a memória do ano passado não passaria de um ano fantasma [em que me senti uma sombra atrás de mim, muitas vezes à minha frente, a ditar-me o trajecto e a forçar-me a trabalhar, lá e aqui, em casa, contra o tempo, de costas viradas para o lugar, com o nariz enfiado no portátil, sempre em posição trípede!...].
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E essa sensação transmigrou para todas as outras dimensões de um quotidiano patético, que não me apetece repetir.
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[De momento, não sinto qualquer lucidez, que me permita pensar em estratégias sensatas, que me impeçam de voltar a olhar-me, assim, difusamente… cada vez a reconhecer-me menos, no pouco tempo que me sobra para mim, porque já sinto que não sobra … e volto a ver a minha sombra a tocar-me no ombro e a puxar-me… um destes dias, a falar por mim…]
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12 comentários:

  1. e nós tranquilamente aguardando o nosso tempo. o tempo de todos os projectos

    eu tenho tanto para fazer e perco-me em penitencias laborais.

    ai escolinha das arvores mortas.

    haja paciencia

    bjos

    c.

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  2. Deveriam prevenir-se pelo menos dois disparates tremendos:

    -evitar que os os estudantes caiam na deseducação--o que só se consegue se as suas faculdades não ficarem estragadas...e julgo que com este sistema poucos escapam a tal massificação...
    -Valorizar a vida e a formação dos professores o que impllica dar-lhes tempo para fazerem o seu trabalho como eles devem e querem fazer...de outro modo serão obrigados[ a maioria] a improvisar à pressa...o resultado está a vista....como te comprendo! Coragem e paciência, pq a causa é muto nobre- mas as circunstâncias são muito precárias...

    Muita música e poesia nas horas livres--quantas serão? Deus é grande e a vida continua...fazer o melhor que se pode é o que está ao nosso alcance...o resto parece um a priori transcendental...que Deus ilumine os nossos governantes para que eles percebam o que está verdadeiramente em causa no mundo estratégico da educação...

    abraços de entusiasmo

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  3. Que quadro, querida um ar de!!! Cada dia temos menos árvores. Porque não se fizeram as obras nas férias?
    Tens que contar com as novas tecnologias!
    Esse não é o talante adequado, deve-se ir ao trabalho com muita alegria, e tu entras desolada.
    Anima-te que o ano lectivo é passageiro e vais ter boas vibrações todo o ano, com uns alunos a ajudar-te e a querer-te muito, o intuo assim, verás.
    Sigo enganchado com a tua prosa, acompanhada de concreções, mas deixa-me preocupado o teu estado de ânimo.
    Não entres em êxtases, regula o tempo, controla os espaços, põe ilusão em tudo... tudo sairá bem.

    Um grande abraço

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  4. o título está fabuloso...e o texto não lhe fica atrás
    beijos e bom reinício de trabalho

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  5. Como te entendo!
    Na volta o que sinto é revolta. Apesar das tentativas para olhar de outro modo, apesar das magníficas férias que este ano tive e que me parecem já tão longínquas... Não páro de pensar que eram outras as coisas que me apetecia fazer. Não páro de pensar que já estou há demasiado tempo no mesmo lugar. Não páro de pensar em tantas coisas...
    Dizem os especialistas que isto acontece frequentemente e se chama depressão pós-férias...Antes fosse pois assim haveria de passar...

    ________

    Fixei numa das tuas frases "disciplina híbrida". É a Área de Integração, certo?
    Pois eu acho que tens um perfil adequadíssimo para a trabalhar com os teus alunos. Ainda bem que "ficas" com ela.

    Muitos beijos de apetecia-me não voltar...

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  6. Linda um ar de

    Acho que nem comento (que o texto está muito bem escrito e..isso é redundante porque tu fazes sempre posts sem mácula). Só te envio factos: dia 1 um dia cheio, sem entusiasmo, só cheio de tralha. De tal modo que, dia 2 uma enxaqueca daquelas que...nem dá para por o pé no chão...
    Beijos de como te entendo e não quero atirar mais achas para a fogueira

    :))

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  7. Muiito bonito o texto viu?
    Vou passar sempre por aqui..
    Um abraço...

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  8. sombras dias

    sombras de dias

    dias de sombras

    morrer para

    renascer

    ocar crescer?

    para sei lá

    para a fé cega

    [ tem que ser cega-cega

    eu pelo menos assim

    até

    a t é ?






    BEIJO ~

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  9. O que vou dizer é profundamente egoísta, mas que bem me sabe ser idosa - vivó eufemismo - e estar reformada.
    Como eu me lembro bem dessas angústias!
    Beijo que queria fosse de força e ânimo:))

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  10. Vou meter a colherada...desculpa um ar de
    A justine não é nada idosa...é só reformada!
    :)))))

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  11. indignam as razões de tal sombra... antecipada! que tão bem descreves em irónica amargura.

    beijos

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  12. Para começar quero dar os parabéns pela fotografia. Artista?!
    Quanto ao recomeço (no post anterior perguntava...) só cito a tinta "na volta o que sinto é revolta". Mas não podemos deixar que isto nos abale demasiado. Ninguém merece que demos cabo de nós.

    beijinho e... estou aqui incondicionalmente

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