sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A cor das horas...


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Hoje, resolvi passar por casa da minha mãe [descobri, há pouco tempo, que é leitora assídua deste blog…], porque talvez não venha a ter muitas tardes, assim, para conversarmos e comprovar que está bem e continua dona do seu nariz…
[Certamente, também a preocupei, a ela… como devo ter preocupado aqueles amigos virtuais que me deixam comentários apreensivos e/ou sensatos.]
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Aproveitámos para comparar notas e relembrar conversas, que ouvi nos idos de Setembros passados na Beira, sobre o meu trisavô… sobre a minha avó materna… sobre outros tempos que sempre me intrigaram.
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A maior parte das lembranças dessas conversas estão associadas ao colo da minha mãe, que aproveitava o final das tardes mornas para relembrar [também ela] as suas raízes, junto das mulheres mais velhas da aldeia, sentadas nas lajes graníticas, ainda quentes, das soleiras das portas da vizinhança amiga.
Eu fazia de conta que dormia a sesta de criança pequena, que era, e fingia a respiração pesada, de quem dorme um sono profundo [conseguindo não mexer a mão onde pousava uma mosca teimosa…].
Eram dois prazeres que não se esquecem. Um colo que nem sempre tinha no resto do ano, só para mim…e as conversas veladas sobre assuntos da minha família, que pareciam contos fantásticos e que eu não poderia ouvir, estando acordada…
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Outras lembranças vêm dos passeios ao lado da minha avó, pelas propriedades da família, que foram sendo vendidas ao longo dos anos, não tendo conhecido, eu, aquelas que foram o orgulho do meu trisavô. Apesar da minha avó não ser mulher de muitas palavras [por vezes, parecia falar sozinha], acrescentava algumas peças ao puzzle que fui construindo, ao longo do tempo [nos primeiros oito anos e meio da minha infância, que sempre me pareceram tão breves!…].
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Hoje, com a ajuda da minha mãe, descobri que esse puzzle tem muito de ficção... o que não lhe retira o encantamento que sempre me cativou… e que, nas minhas memórias de criança, os nomes e as personas se confundiram de uma forma bizarra, mas verosímil…
Desenhei a casa da minha avó e as imediações, tal como ambas a recordávamos… revimos nomes de companheiras das conversas vespertinas…reconstruímos um pouco da árvore genealógica daquele lado da família… e esquecemo-nos das horas [mesmo que estas não tenham as mesmas cores, para uma e para a outra…].
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E, apesar de sabermos, as duas, que sobre estas personas haverá de pairar, sempre, uma aura de mistério, que o tempo guardará… dedico este post à minha mãe [que nunca os comenta, mas os lê… e acredita que as palavras têm um poder de salvação…].
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Foto não tão recente, pormenor da sala da casa materna

14 comentários:

  1. E a tua mãe vai gostar muito.
    Porque é muito bonito. As palavras. O gesto.
    Um beijo dedicado.

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  2. e la nos vamos visitando :)

    gostei muito da manifestaçao publica de afecto.

    abrir o bau... revisitar...

    ...o calor do colo...

    é fantastico :)

    bom... que esse mar te traga tudo o q precisas

    eu... mais junto a torre :)

    bjº

    c´...

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  3. palavras

    podem ser movimento e caminho

    depois será necessário saltá~las

    e serem vida

    [ desnecessárias?...

    falo assim de saltar

    como nas fogueiras de s joão

    ir-se de na s chama s

    despida :)





    beijo

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  4. (( sou pedra de aldeia
    sou colo sub
    terrâneo que anoi
    teço :)

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  5. Que lindas memórias e tão bem ficcionadas-sem prejuízo da sua raíz familiar real...tens uma mãe encantadora...e este post contêm tanta emoção e esmero teus...que tb me emocionei... também tenho um fraquinho grande pela minha mãe que ainda é mais fraquinha-embora já frágil- por mim...este teu post brilha pela força das tuas raízes, dos teus sentimentos e pela arte com que o escreves...uma delícia!
    A tua ternura maternal influenciou em boa parte a escolha do poema-não meu-...que pus no meu blogue...
    Bom fim de semana...

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  6. e a nossa história que se vai construindo é isso mesmo... as memórias que ficam, em nós e nos outros, revestidas, sempre, do princípio terívelmente sedutor de que quem conta um conto, acrescenta um ponto!

    Beijos,

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  7. Bonita declaração de amor
    :)
    Beijos comovidos

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  8. as maes merecem todo o nosso afecto

    jokas

    Paula

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  9. Que bonito.
    Que sensibilidade.
    Que bom gosto.
    Claro que sim, a tua mãe sentir-se-á sumamente feliz e orgulhosa desta filha que tem.

    ... onde pousava uma mosca teimosa...
    ... um colo que nem sempre tinha...
    ... que eu não podia ouvir estando acordada... (malandra)
    Tudo o que escreves está impregnado de certo encanto que cativa. Deverias de escrever um livro com todas estas vivências, fazer-te-ia bem, não tenho nenhuma duvida do seu êxito.
    Só quem escreve assim transmite.

    Já estive em Sarrabiscos gostei...

    Querida amiga vou pela Senhora da Hora desde os catorze anos. Vivia em Pedras Rubras e só conhecia esta localidade por passar o comboio por ali, quando comecei a estudar no Porto. Os meus pais fizeram uma moradia em São Gens e então passei a apanhar o comboio na Senhora da Hora.
    Parte da minha família vive ali e o resto em Moreira da Maia.
    Sempre foi um centro muito activo, pela fabrica e por ser um ponto de cruzamento de caminhos.
    Chegou a ser mais importante que Matosinhos.
    Reconheço que não me preocupo o suficiente por ti. Vejo-te desprotegida, ,indefensa, pelo menos é o que me parece.
    Está bem, quando consideres oportuno diz-me coisas, às vezes faz bem desabafar, escreve-me um mail.
    Tu vales muito, não permitas que nada nem ninguém te menospreze.

    Um grande abraço

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  10. bonito regalo para tu madre, un precioso detalle
    saluditos

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  11. Que pedacinho maravilhoso. Nem tu sabes o que eu aprecio estes momentos de ternura que há quem viva com a sua mãe.

    Que tal o recomeço?

    Beijinhos

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  12. A tua mãe tem razão: as palavras são a nossa salvação...mas também a nossa perdição.

    E o teu post é uma encantadora declaração de amor à tua família.

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  13. não há maoir cumplicidade que a de uma mãe e uma filha...

    "invejei" sempre esse privílégio das minhas irmãs...

    um texto muito belo.

    beijo

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  14. Como mãe (de uma encantadora menina de quase 17 anos) e como filha (de uma mulher que consegue fazer das suas doenças e fraquezas uma força extraordinária para dar muito aos seus) sinto inveja de ti porque não só consegues a conversa como consegues reproduzi-la e expô-la ao mundo de um modo tão ternurento!

    obg pelo momento

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