sábado, 1 de março de 2008

Pomba ferida, de asa caída...



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Acordei como esta pomba. Ferida e de asa caída...
Saí da cama, em sobressalto [talvez à espera de ouvir um despertador que se esqueceu de tocar e vou chegar tarde!...], a pensar que a minha vida mais próxima vão ser estes acordares repentinos e dolorosos, em que tudo me dói e me falta força para mudar seja o que for.
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Não... Nada nem ninguém me compensa pelas minhas quartas-feiras perdidas a inventar trabalho.
Pelo contrário, as quintas-feiras vêm dizer-me que sou uma completa imbecil, que perde horas úteis para ter resultados inúteis... A meio da aula, mudei o tom [também eu tenho direito de não ter vontade de estar ali, no meio de gente com idade para ter alguns propósitos e juízo], desliguei o PC e o projector e perdi a vontade de continuar...
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Sendo assim, perdi dois dias da minha vida, perdi saúde, perdi o pio, fiquei com a asa ferida, mas regressei a casa [à hora do costume, que é bem tarde], para voltar às 8 horas e 25 minutos, na sexta-feira.
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Hoje, acordei com dores na asa e sem qualquer vontade de voar, mesmo que pudesse, ou mesmo que quisesse. [Como esta pomba, que andava aos círculos e inquieta, triste, de asa caída... num passeio de betão, perto daqui, cinzento, quadrado e aos quadrados.]
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Antes de recomeçar a perder mais tempo com a inutilidade inevitável da minha vida, apeteceu-me prestar uma homenagem a uma ave que não voa [como eu, que não faço quase nada do que imagino que gostaria de fazer, porque só imagino e já não sei].
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A pomba lá ficou, aos círculos... Eu fiquei a pensar que me sinto num beco sem saída.
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[Hoje foi um acordar de lágrimas silenciosas, das quais só senti o sabor a sal, misturado com café com leite.]
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Foto de uma pomba perdida na cidade

11 comentários:

  1. devia haver um lugar onde levar

    as asas feridas.

    devia haver um lugar de dança

    um lugar

    onde

    soluçar

    um colectivo lugar de gentes

    e pombos

    abraçados

    sentados

    a

    re aprender-se ser

    a

    aprender-se

    um ainda

    sorrir um ainda

    sonhar



    ...



    só te ofereço o meu ombro.

    o único que não arrasto...

    e

    agora

    um

    beijO

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  2. Entendo a ferida.
    Entendo mesmo.
    Mas não te dou o meu ombro para chorá-la.
    Nem choro contigo.
    Já chorei muito.
    Tenho uma coisa muito melhor para te dar.
    A minha saia amarela. De amarelo vivo a voar ao vento.
    É isso que te quero dar.
    A saia amarela.
    E claro,
    um abraço amigo, das cores mais vivas que existam no mundo.

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  3. “Antes de recomeçar a perder mais tempo com a inutilidade inevitável da minha vida, apeteceu-me prestar uma homenagem a uma ave que não voa [como eu, que não faço quase nada do que imagino que gostaria de fazer, porque só imagino e já não sei].”

    Acho que o teu silogismo muito imperfeito.
    O problema está na imperfeição da premissa “inutilidade inevitável”. Todas as inutilidades ou são evitáveis ou recicláveis.
    A correcção dessa premissa não difícil nem exige grande esforço, apenas o mesmo que é dedicável à falsa constatação da inevitabilidade.
    Todos os problemas são mesmo oportunidades. O que é inconcebível é que condenemos a nossa inteligência, vontade e sensibilidade a uma inevitabilidade, qualquer que ela seja. Mesmo a morte poderá ser uma porta aberta quanto mais o mero desalento.
    Quanto aos becos, não é essencial que tenham saída. Basta que sejam nossos e que saibamos de cor as formas de todas as pedras do empedrado. Que as saibamos retirar do pavimento e tornar a pavimentar em forma diversa. O beco, nosso e sem saída, pode muito bem ser um oceano feito em espiral infinita. Mas para isso a inutilidade e a inevitabilidade não são colher nem cimento que sirvam. Não servem mesmo.

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  4. estou speechless

    1º com a forma crua (quase cruel como te estas a olhar) e que, decerto, é conjuntural.... só pode
    2º com as palavas muito bem ditas dos meus antecessores comentaristas.

    Resta-me dar-te um abraço

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  5. Que sensação de falta de sentido de oportunidade, acrescida à tristeza "lacrimejante" da manhã!...

    Há tristezas que se devem guardar e esperar que passem... quando passarem [e até se transormarem...]

    Obrigada a todos pelas palavras.
    Todas li e guardei, com o seu peso e medida... espero que em sítio certo.

    [BEIJOSsssss]

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  6. "e até se transformarem..."
    ...rectifico...

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  7. as feridas na asa doem. de facto. mas quando saram fortalecem o voo...

    é de certo dor passageira. a tua. assim espero.

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  8. Sempre que tiveres vontade chora.Chorar faz bem.É uma catarse.
    Depois tudo fica mais perceptível.Já não tem as mesmas dimensões.A asa ferida começa a sarar e tudo vai ficar bem.Confia.
    Um arco-íris de mil cores em teu coração ferido.

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  9. Como eu entendo as tuas quartas-feiras e as tuas quintas-feiras! Como eu entendo o teu chorar silencioso ao acordar! São as situações que eu vivo diariamente. uma total desilusão. Investir tudo sabendo que o retorno é quase nulo.
    Quando me apetece chorar, choro mesmo e depois tomo a decisão de me agarrar ao "quase" e... tomo um antidepressivo...

    Um beijo solidário

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  10. Querida GP,

    Acho que a dimensão dessa desilusão, no meio destes comentários amigáveis e animadores, só nós duas é que sabemos...

    Eu, como sabes, criei demasiadas expectativas. E não devia. É disso que me recrimino.
    Não me culpo, mas recrimino.

    Os psicotrópicos estão-me proibidos, por causa das enxaquecas. Não posso tomar dessas drogas milagrosas. Acho que piorava a situação e só dormiria...

    Enfim... Por isso, publicitar o choro, ocasionalmente, nem me parece tão ostensivo, assim...

    Que a minha vida é um logro, isso é. Que não tenho tempo para chorar, só chorar, nem isso tenho.

    Vou trabalhando na papelada e no PC, ou tomando o pequeno almoço, ou um chuveiro, ou conduzindo...

    Já não me acontecia há uns meses, também. Mas aconteceu.

    Sabes que não tive direito a ser avaliada no anterior estaminé, em 2007? Apesar de me dizerem para enviar os meus objectivos individuais [o que fiz, claro, apesar de ser uma palhaçada]?

    Pois é. Trabalhei tão, mas tão bem, que tive direito a NADA.

    Acho que as lágrimas também tinham o sabor a esse engano, a esse furto.

    Como vês, os anti-depressivos vinham a calhar, mas não dá.

    Um BEIJO muito solidário e solitário...

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  11. Querida
    A injustiça é o prato forte deste mundo, particularmente desta profissão, mas temos de pensar que o país, a Ministra, os pais e os filhos dos pais não merecem que demos conta da nossa saúde. Não lhes dês a importância que eles não têm. Valoriza-te e cuida mais de ti. O egoismo é a única defesa.
    Por que não tiveste direito a ser avaliada no estaminé? Eu mandei a papelada mas até hoje não soube de nada. Se calhar também não tenho avaliação... sei lá! O que sei é que não vou perder um segundo de sono por isso.
    Se precisares de mim, ou quiseres chorar acompanhada (!), pede o meu telemóvel à R.

    Um beijo enorme

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