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Acordei como esta pomba. Ferida e de asa caída...
Saí da cama, em sobressalto [talvez à espera de ouvir um despertador que se esqueceu de tocar e vou chegar tarde!...], a pensar que a minha vida mais próxima vão ser estes acordares repentinos e dolorosos, em que tudo me dói e me falta força para mudar seja o que for.
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Não... Nada nem ninguém me compensa pelas minhas quartas-feiras perdidas a inventar trabalho.
Pelo contrário, as quintas-feiras vêm dizer-me que sou uma completa imbecil, que perde horas úteis para ter resultados inúteis... A meio da aula, mudei o tom [também eu tenho direito de não ter vontade de estar ali, no meio de gente com idade para ter alguns propósitos e juízo], desliguei o PC e o projector e perdi a vontade de continuar...
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Sendo assim, perdi dois dias da minha vida, perdi saúde, perdi o pio, fiquei com a asa ferida, mas regressei a casa [à hora do costume, que é bem tarde], para voltar às 8 horas e 25 minutos, na sexta-feira.
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Hoje, acordei com dores na asa e sem qualquer vontade de voar, mesmo que pudesse, ou mesmo que quisesse. [Como esta pomba, que andava aos círculos e inquieta, triste, de asa caída... num passeio de betão, perto daqui, cinzento, quadrado e aos quadrados.]
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Antes de recomeçar a perder mais tempo com a inutilidade inevitável da minha vida, apeteceu-me prestar uma homenagem a uma ave que não voa [como eu, que não faço quase nada do que imagino que gostaria de fazer, porque só imagino e já não sei].
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A pomba lá ficou, aos círculos... Eu fiquei a pensar que me sinto num beco sem saída.
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[Hoje foi um acordar de lágrimas silenciosas, das quais só senti o sabor a sal, misturado com café com leite.]
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Foto de uma pomba perdida na cidade
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Foto de uma pomba perdida na cidade
devia haver um lugar onde levar
ResponderEliminaras asas feridas.
devia haver um lugar de dança
um lugar
onde
soluçar
um colectivo lugar de gentes
e pombos
abraçados
sentados
a
re aprender-se ser
a
aprender-se
um ainda
sorrir um ainda
sonhar
...
só te ofereço o meu ombro.
o único que não arrasto...
e
agora
um
beijO
Entendo a ferida.
ResponderEliminarEntendo mesmo.
Mas não te dou o meu ombro para chorá-la.
Nem choro contigo.
Já chorei muito.
Tenho uma coisa muito melhor para te dar.
A minha saia amarela. De amarelo vivo a voar ao vento.
É isso que te quero dar.
A saia amarela.
E claro,
um abraço amigo, das cores mais vivas que existam no mundo.
“Antes de recomeçar a perder mais tempo com a inutilidade inevitável da minha vida, apeteceu-me prestar uma homenagem a uma ave que não voa [como eu, que não faço quase nada do que imagino que gostaria de fazer, porque só imagino e já não sei].”
ResponderEliminarAcho que o teu silogismo muito imperfeito.
O problema está na imperfeição da premissa “inutilidade inevitável”. Todas as inutilidades ou são evitáveis ou recicláveis.
A correcção dessa premissa não difícil nem exige grande esforço, apenas o mesmo que é dedicável à falsa constatação da inevitabilidade.
Todos os problemas são mesmo oportunidades. O que é inconcebível é que condenemos a nossa inteligência, vontade e sensibilidade a uma inevitabilidade, qualquer que ela seja. Mesmo a morte poderá ser uma porta aberta quanto mais o mero desalento.
Quanto aos becos, não é essencial que tenham saída. Basta que sejam nossos e que saibamos de cor as formas de todas as pedras do empedrado. Que as saibamos retirar do pavimento e tornar a pavimentar em forma diversa. O beco, nosso e sem saída, pode muito bem ser um oceano feito em espiral infinita. Mas para isso a inutilidade e a inevitabilidade não são colher nem cimento que sirvam. Não servem mesmo.
estou speechless
ResponderEliminar1º com a forma crua (quase cruel como te estas a olhar) e que, decerto, é conjuntural.... só pode
2º com as palavas muito bem ditas dos meus antecessores comentaristas.
Resta-me dar-te um abraço
Que sensação de falta de sentido de oportunidade, acrescida à tristeza "lacrimejante" da manhã!...
ResponderEliminarHá tristezas que se devem guardar e esperar que passem... quando passarem [e até se transormarem...]
Obrigada a todos pelas palavras.
Todas li e guardei, com o seu peso e medida... espero que em sítio certo.
[BEIJOSsssss]
"e até se transformarem..."
ResponderEliminar...rectifico...
as feridas na asa doem. de facto. mas quando saram fortalecem o voo...
ResponderEliminaré de certo dor passageira. a tua. assim espero.
Sempre que tiveres vontade chora.Chorar faz bem.É uma catarse.
ResponderEliminarDepois tudo fica mais perceptível.Já não tem as mesmas dimensões.A asa ferida começa a sarar e tudo vai ficar bem.Confia.
Um arco-íris de mil cores em teu coração ferido.
Como eu entendo as tuas quartas-feiras e as tuas quintas-feiras! Como eu entendo o teu chorar silencioso ao acordar! São as situações que eu vivo diariamente. uma total desilusão. Investir tudo sabendo que o retorno é quase nulo.
ResponderEliminarQuando me apetece chorar, choro mesmo e depois tomo a decisão de me agarrar ao "quase" e... tomo um antidepressivo...
Um beijo solidário
Querida GP,
ResponderEliminarAcho que a dimensão dessa desilusão, no meio destes comentários amigáveis e animadores, só nós duas é que sabemos...
Eu, como sabes, criei demasiadas expectativas. E não devia. É disso que me recrimino.
Não me culpo, mas recrimino.
Os psicotrópicos estão-me proibidos, por causa das enxaquecas. Não posso tomar dessas drogas milagrosas. Acho que piorava a situação e só dormiria...
Enfim... Por isso, publicitar o choro, ocasionalmente, nem me parece tão ostensivo, assim...
Que a minha vida é um logro, isso é. Que não tenho tempo para chorar, só chorar, nem isso tenho.
Vou trabalhando na papelada e no PC, ou tomando o pequeno almoço, ou um chuveiro, ou conduzindo...
Já não me acontecia há uns meses, também. Mas aconteceu.
Sabes que não tive direito a ser avaliada no anterior estaminé, em 2007? Apesar de me dizerem para enviar os meus objectivos individuais [o que fiz, claro, apesar de ser uma palhaçada]?
Pois é. Trabalhei tão, mas tão bem, que tive direito a NADA.
Acho que as lágrimas também tinham o sabor a esse engano, a esse furto.
Como vês, os anti-depressivos vinham a calhar, mas não dá.
Um BEIJO muito solidário e solitário...
Querida
ResponderEliminarA injustiça é o prato forte deste mundo, particularmente desta profissão, mas temos de pensar que o país, a Ministra, os pais e os filhos dos pais não merecem que demos conta da nossa saúde. Não lhes dês a importância que eles não têm. Valoriza-te e cuida mais de ti. O egoismo é a única defesa.
Por que não tiveste direito a ser avaliada no estaminé? Eu mandei a papelada mas até hoje não soube de nada. Se calhar também não tenho avaliação... sei lá! O que sei é que não vou perder um segundo de sono por isso.
Se precisares de mim, ou quiseres chorar acompanhada (!), pede o meu telemóvel à R.
Um beijo enorme