quarta-feira, 16 de abril de 2008

Uma metáfora para uma quarta-feira...



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Se há dias que custam a viver, ontem, foi um deles.
Sobram as consequências para a quarta-feira…
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E sobram para mim que, incapaz de pensar global, penso local.
Incapaz de relativizar, de momento, tudo se concentra nesta garganta arranhada, que parece inchada [por onde os alimentos doem a passar… quando passam], nesta irritante dor de cabeça, que não chega a ser [nem deixa de ser, mas que me faz lacrimejar], nas dores nos ossos e nas articulações [de tantas movimentações de um lado para o outro, carregada de tralhas pesadas].
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Penso: se chegar ao Verão…
Pois, se chegar ao Verão, talvez consiga aguentar mais um ano, assim… e mais outro…
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Já não é a primeira vez que tenho esta sensação, quase certeza, de que estico uma corda, de cuja resistência duvido muito. Nunca tive tempo para a substituir por uma mais forte. [Aliás, assumo que escrevo um metáfora… Qual corda? Substituir o quê?]
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Mas, bem que me lembro das cordas do baloiço da casa do meu avô paterno [num Setembro morno e quente da Beira Interior] … lassas, quase a rebentar…
Se não deixava os meus irmãos aproximarem-se, com medo, insisti eu em andar no baloiço todos os dias!
Subia por cima da latada e via a copa imensa da árvore de tília e o céu azul e pensava que não me custaria morrer, assim.
Acabaram por trocar as cordas a meio daquele Setembro em que, pelos vistos, desafiei a morte e não morri.
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Teria os meus dez anos, pouco mais ou pouco menos…
Cordas renovadas [e testadas por mim] e os mais novos tiveram direito ao baloiço, a tempo inteiro. Afinal, foi coisa de poucos dias.
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Houve muitos episódios quotidianos em que estiquei uma corda lassa e cheia de fios soltos da trança principal.
Se acreditasse em anjos ou na vida depois da morte, poderia pensar que a minha madrinha, ou o meu avô paterno, de onde estivessem, chamariam a si a tarefa de substituir a corda, que eu insisto em esticar, até poder rebentar.
[Mas não. Não acredito.]
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Hoje vou tentar curar, num só dia, esta sensação de mal-estar. Sozinha.
Finalmente, os vírus dos meus alunos apanharam-me! Quem me manda a mim estar tão próxima? Quem me manda a mim…
Aqui em casa, insistem em que eu devia evitar a proximidade física, lá fora.
Aqui em casa, incentivam-me a cultivar a distância, lá fora.
Aqui em casa…
Mas, a minha vida não se confina às paredes da minha casa.
Nunca me dei ao trabalho de contar quantas pessoas se relacionam comigo num só dia, lá fora!... Nunca me dei ao trabalho de contar como é importante a forma dessas relações, porque é. [E não consigo discorrer, com esta dor de cabeça, sobre essa importância…]
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Então, pensando local… penso global: é importante, para mim, a forma de todas as relações.
São importantes, para mim, pessoas de quem nunca me aproximarei, fisicamente, mas cuja integridade física me preocupa.
Por isso, faço o movimento inverso e relativizo, sob pena de continuar a esticar uma corda lassa... [sob pena de poder morrer por um metáfora!]
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E não adianta provarem-me, por A mais B, os efeitos nefastos da proximidade física, lá fora.
Apesar da fragilidade do meu corpo, mais que comprovada ao longo dos anos e desde que nasci [que sempre senti que me falhava, quando eu mais precisava dele], insisto em pensar que aguenta, porque eu quero, ou porque preciso dele.
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[Vou bebendo chá morno… Encharco o nariz com soro fisiológico… Protejo-me das correntes de ar, quando abro as janelas, para o renovar… e olho para a corda lassa… e penso que acredito que o miolo da trança é mais forte do que eu.]
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Foto de cordas, que resistem

15 comentários:

  1. Boa tarde :)
    Devo dizer que este seu texto está carregado de metáforas, porém algumas não são assim muito positivas.
    Vejo que está constipada, álias se há pessoas que ficam constipadas os professores estão no topo pois como diz, lidam com muita gente e não há grandes probabilidades de escapar.
    Compara-se a uma corda.
    As cordas servem para unir, para dar nós, para saltar, para muito.
    Use o melhor.

    Beijinhos

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  2. Não sei se é assim tão negativo.

    Até nem me pareceu, depois de escrever e de rever a foto de cordas que resistem, mesmo debaixo de água, de sal, de correntes e do tempo... Não pensei muito em sentidos positivos e negativos. Acho que nunca penso nessas dicotomias, quando escrevo.
    Escrevo.

    Dependerá das leituras.

    A "corda" tem resistido.
    Com as "cordas" do baloiço, da latada do meu avô, subi a alturas inimagináveis!...

    As "cordas" também podem significar os "laços" das relações...

    Esta minha "corda" ainda terá muitas utilidades, espero eu, até quebrar [porque, um dia, lá terá que ser... e será mesmo assim.]


    [BEIJO]

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  3. Vim aqui saber como tinha passado a tua pesada quarta-feira e encontro-te agarrada aos vírus. Aproveita as consequências das tuas proximidades a relaxa, descansa, dorme, escreve,... Enfim, faz o que der prazer.

    A vida é só uma. Temos que verificar, de vez em quando, a corda e, se a vemos lassa, há que a substituir ou reforçar. Com corda plástica de preferência. É feia mas mais resistente.

    Se precisares de mim, chama. Nesta casa a amizade está sempre de serviço... 24 horas por dia.

    Beijinho e rápidas melhoras

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  4. Olá

    Desde já as melhoras,
    não sei se gostei mais do seu post, se da sua explicação.
    Global e local, o problema é esse e ainda por cima com dor de cabeça!...

    Stella

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  5. minha linda um ar de

    Por um lado estou sem palavras. Se tivesse o teu talento poderia ter escrito este texto, porque o sinto profundamente. Há coincidencias arrepiantes (eu sei que é metafórico....pois...) como a do corpo falhar quando mais se precisa dele... como a do fora e dentro como se houvesse isso do fora e dentro ...
    [O M Torga diz que o global é o local sem paredes (julgo não ter atraiçoado o autor, porque cito de cor)]
    Por outro lado: bota alguma loucura e leveza no teu dia a dia... Um dia alguém me aconselhou a fazer, pelo menos, uma asneira por semana...

    Se tiveres tempo vai ver...respondi a vários comentários teus e num deles dei comigo a rir desalmadamente :))

    Um beijo

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  6. E não é que esqueci de GABAR a tua inovação .... o slideshow é isso mesmo... um show

    :))

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  7. Querida Maria do Sol,

    O "slideshow" é fácil de fazer. Tu própria, num instante, escolhes as imagens que quiseres e só segues as instruções a partir do meu.

    Se não me engano, aprendi no blog da nana - Marulhos...

    A Tinta Azul experimentou, de imediato. Depois, acho que nos esquecemos... Lembrei-me, de novo.

    Quanto ao outro assunto, a minha mãe diria [coisas que a minha mãe diz muito], que as coincidências são a forma que Deus encontra para ser harmonioso.

    [Vá lá, de vez em quando temos um miminho da divindade!... Como se não tivéssemos nada a ver com o asunto, claro. Por outro lado, está explicada a falta de harmonia, onde já somo nós os responsáveis, evidentemente! Muito simples...].

    Por incrível que pareça [até a mim], "lá fora" o meu sentido de humor é muito apreciado, vê lá tu!...
    E alguma asneirita devo fazer, porque "adoram" a minha irreverência... não me perguntes porquê...

    É que não faço o menor esforço, porque grande força não tenho.
    Só podem ser (in)coincidências do Diabo!...

    [BEIJO]

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  8. Stella,

    Já nos cruzámos em tantos blogs comentados!...

    Eu tenho o hábito de ler, praticamente, todos os comentários.

    Obrigada pela visita e pelo cuidado nas melhoras.

    Havemos de nos cruzar mais vezes, certamente.

    [BEIJO de "reconhecimento":)]

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  9. Querida GP,

    Já te respondi, por mail...
    Obrigada pelo mimo, pelo cuidado, eu sei lá!...

    Mas, amanhã vou dar aulas e o "resto"... Ia arruinar a minha planificação e há testes à vista!

    Vou fazer os possíveis para não me expor demasiado à intempérie...

    [BEIJO maiúsculo]

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  10. esticando a corda se podem tecer laços ou desfazer nós lassos!

    (sem a corda partir)

    excelente metáfora.

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  11. Extraordinário texto, amiga(sim, depois deste retrato teu, chamo-te amiga!)E não só no aspecto formal, no entrançado das palavras, na adequação da matáfora. Falo principalmente do que está lá dentro, do humanismo, da ternura pelos outros, das dúvidas e das inseguranças, das fraquezas e da teimosia/força em continuar, sempre.
    Muito, muito belo e muito denso.
    Parabéns.
    Belo, também, o slide-show, que nos põe a viajar pelos territórios da beleza.

    (e obrigada pela tua visita e palavras bonitas)

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  12. Não tenho as melhores palavras para te dizer agora.
    Deixo-te um abraço e um beijo.
    Espero que possamos almoçar brevemente.

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  13. Quanto ao slideshow, acertaste: esqueci-me mesmo. Coincidência é que me lembrei dessa possibilidade há poucos dias atrás mas não tive tempo para o fazer. [são duas as coincidências, uma: lembrar o slide show, outra: o raio das articulações...]
    Vou vestir mas é a saiinha amarela nem que seja para andar com ela em casa...pode ser que me faça bem!

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  14. Desculpe mas não entendo como.
    Através do slide?

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