quinta-feira, 24 de julho de 2008

Carimbos e marcas que o tempo levou…


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Aqui há uns anos, depois de uma empreitada valente, às voltas com uma tese de mestrado e um orientador sempre ausente [que, em altura crucial, de defesa de tese, se deu ao luxo de desaparecer, para o Brasil, ou parte incerta da América do Sul, numa sabática escandalosa, que nos fez esperar, a todos, cerca de um ano…], o início das minhas férias foi passado aqui em casa, na oficina ao fundo do jardim…
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Soube-me muito melhor do que uma viagem… sei lá aonde!...
Aproveitei umas experiências do mestre e trabalhei ao lado… Ensaiavam-se óxidos sobre azulejos [mais tarde, vidrados…]. Sem pressas. Com calma, para variar. O silêncio não era preciso ensaiar… Larguei a escrita académica... Deixei de pensar em orientadores que nos arrebanham para nos desorientarem… e descansei.
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Hoje, mesmo que quisesse repetir as mesmas proezas: pintar azulejos em silêncio e defender uma tese de mestrado sozinha… acho que não seria capaz.
Nessa altura, ainda as enxaquecas e os seus efeitos devastadores, do dia seguinte, não aconteciam numa base tão regular… [Nessa altura, ainda tinha não sei o quê, que me faz falta... agora... e, que prefiro nem indagar, para não me assustar.]
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O passeio de ontem, felizmente, não era o início de uma saída por vários dias, ou não teria conseguido deitar-me e descansar, depois de mais uma enxaqueca. Hoje, não estaria sentada, com outro analgésico menor, a tentar mexer-me o mínimo possível, para não alterar a posição das cervicais…
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Por muito que quisesse deslocar-me até à oficina, ao fundo do mesmo jardim [que mudou bastante, pelas nossas póprias mãos, nos últimos anos…], não seria capaz de baixar a cabeça e de fixar o olhar, sem sentir dor.
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Andei a vasculhar umas fotos antigas e descobri estes carimbos [foi assim que lhes chamei, numa primeira fase, só com óxidos…], que já nem tenho. Ofereci-os. Tudo me leva a pensar que foram os primeiros, na sua simplicidade monocromática...
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[Só hoje, os apreciei, realmente. Não… nunca tinha pintado com óxidos sobre azulejo. E sim… há toda uma série de experiências que comecei e nunca tiveram continuidade. Porque o tempo é assim mesmo… nem sempre se oferece, no momento certo… nem sempre se dá incondicional… a maior partes das vezes, apresenta-se como um contratempo… ou a contra-tempo, como hoje. De castigo, fiquei sozinha em casa, à espera de melhor tempo…]
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Fotos de azulejos pintados com óxidos e esgrafitados

7 comentários:

  1. pesos

    medidas e

    os olhos do tempo

    relativizar

    [ mo

    nos




    ~




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  2. O trabalho ficou bonito...carimbaste-os de carimbos, carimbos são.
    Nem sei que te diga... Que ao ler-te me vejo ao espelho?
    Tu produzes estes textos belíssimos. Eu aguento-me até aquela ironia de trazer por casa! Só as dores (cervicais) seráo semelhantes!

    beijos de já me falta a paciência por não me mexer à vontade...

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  3. E a mim também.
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    [Beijo de... a mim também e um ponto final]

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  4. Extraordinário trabalho. Conheço um pouco a técnica o que permite imitir um juízo de valor mais acertado. A experiência que vivi foi de desenhos com óxido sobre vidro.
    Deleitei-me com a tua maravilhosa descrição.

    Pensei que andavas um pouco decaída, animicamente, e pelo que vejo o que acontece é que temos um problema análogo ao meu, as cervicais.
    Não tenho enxaquecas, o meu problema é somente das cervicais, e em consequência o que aquilo acarreia. Uns dias melhores, e outros muito piores.

    Que tenhas uma sucessão de dias felizes para compensar...

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  5. só.

    febre:



    palavra.


    [ todos narcísicos

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  6. pois é.libertar-(nos) de "orientadores" resulta. está provado...

    beijo

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