.
.Está sempre vento nas praias do Atlântico…
Caminho enregelada.
Às vezes, sinto mais frio no Verão do que no Inverno. Vou preparada para o sol e a nortada ecoa nos ouvidos, entra pelas roupas, gela os joelhos. Foi sempre assim. Não será da idade.
A minha avó dizia que o vento faz mal aos loucos!... [Penso nisso, sempre.].
.Hoje, acordei assim, encolhida de frio…
Saíram todos, para os seus afazeres e continuei a dormir, sem dar grande conta, fazendo entrar nos sonhos os pequenos barulhos matinais que tentaram abafar.
Aos poucos, começo a conseguir dormir mais... Aos poucos, o corpo parece esquecer-se das madrugadas e acorda, sem o despertador.
.
.Aos poucos, começo a ter outras vontades [apesar de ainda ser prematuro]. Escrevem-se outras escritas… Desejam-se outros lugares… Deseja-se…
Há tentativas de passeios. Há saídas para comprar pequenas coisas [que não compro, porque tudo me parece igual e redundante e as grandes coisas já não sei o que são e não haveria dinheiro que as comprasse, certamente].
.
.E volto, com as mãos cheias de inquietudes. Penso nos breves encontros e em breves palavras, que se trocam com desconhecidos. Como é relativa a dimensão das coisas!... São pequenas histórias que prometem vidas inteiras, que ficam por contar. [Ainda me tratam por menina, embora lhes reconheça a vizinhança da minha idade, apesar de carregados de rugas e cansaços, bem mais visíveis, que me fazem pensar como o tempo é cínico e, também ele, marca as diferenças.]
.
.Enquanto passeio por entre os pescadores de domingo, no molhe, admiro a paciência da espera. Quando um peixe pica o anzol, nas águas poluídas, que se confundem com a foz do Douro, para que serve? São peixes com colorações estranhas e doentias. Pergunto se os comem, a medo. Sorriem… [acharia que não, mas temo que sim…].
.
.
[Afasto-me. Está maré-cheia. As ondas batem com força nas rochas e no molhe. Sentem-se salpicos na aragem, Melhor fora suspender a respiração. Ainda olho para trás. Outro peixe picou o anzol. Deixo-os com a tarde de domingo e um adeus… Aqueço-me no carro a caminho de casa.]
.
.
.Está sempre vento nas praias do Atlântico…
Caminho enregelada.
Às vezes, sinto mais frio no Verão do que no Inverno. Vou preparada para o sol e a nortada ecoa nos ouvidos, entra pelas roupas, gela os joelhos. Foi sempre assim. Não será da idade.
A minha avó dizia que o vento faz mal aos loucos!... [Penso nisso, sempre.].
.Hoje, acordei assim, encolhida de frio…
Saíram todos, para os seus afazeres e continuei a dormir, sem dar grande conta, fazendo entrar nos sonhos os pequenos barulhos matinais que tentaram abafar.
Aos poucos, começo a conseguir dormir mais... Aos poucos, o corpo parece esquecer-se das madrugadas e acorda, sem o despertador.
.
.Aos poucos, começo a ter outras vontades [apesar de ainda ser prematuro]. Escrevem-se outras escritas… Desejam-se outros lugares… Deseja-se…
Há tentativas de passeios. Há saídas para comprar pequenas coisas [que não compro, porque tudo me parece igual e redundante e as grandes coisas já não sei o que são e não haveria dinheiro que as comprasse, certamente].
.
.E volto, com as mãos cheias de inquietudes. Penso nos breves encontros e em breves palavras, que se trocam com desconhecidos. Como é relativa a dimensão das coisas!... São pequenas histórias que prometem vidas inteiras, que ficam por contar. [Ainda me tratam por menina, embora lhes reconheça a vizinhança da minha idade, apesar de carregados de rugas e cansaços, bem mais visíveis, que me fazem pensar como o tempo é cínico e, também ele, marca as diferenças.]
.
.Enquanto passeio por entre os pescadores de domingo, no molhe, admiro a paciência da espera. Quando um peixe pica o anzol, nas águas poluídas, que se confundem com a foz do Douro, para que serve? São peixes com colorações estranhas e doentias. Pergunto se os comem, a medo. Sorriem… [acharia que não, mas temo que sim…].
.
.
[Afasto-me. Está maré-cheia. As ondas batem com força nas rochas e no molhe. Sentem-se salpicos na aragem, Melhor fora suspender a respiração. Ainda olho para trás. Outro peixe picou o anzol. Deixo-os com a tarde de domingo e um adeus… Aqueço-me no carro a caminho de casa.]
.
.
Vou ali e já volto.
ResponderEliminarBeijinhos.
ser menina : trata-se
ResponderEliminarmais da ausência de rugas interiores.
praias e ventos. a mim são-me vazios de ecos.
às vezes escuto sereias quando o vento atlântico
me aperta mais a cabeça
me dói profundamente nas têmporas:
sei claramente que
tudo me é
noutras geografias que
pouco
me passa de mim pelo mar...
~
O caos da natureza com toda a alegria da liberdade do corpo e da mente...intensamente vivenciado e muito bem fantasiado...
ResponderEliminarserenas fruições.
Já li e já "treli". Parece-me que já estás na estação onde vai passar o combóio que leva ao descanso. Deixa-te embarcar. Embarca!
ResponderEliminarQue bem escreves!
ResponderEliminarQue bem me sabe ler-te assim
como quem despe o peso da roupa de Inverno e , ainda que com frio - um outro frio -, caminhas rumo ao Verão.
"Agarra o Verão "
Beijo de brisa morna :)
Unha aperta desde o meu espazo.
ResponderEliminar:)
Que bom é acompanhar-te nessas peregrinações interiores, a reflectir e a procurar, no meio dos outros.
ResponderEliminarQue encontres o que procuras...
Beijo
Escrita única e arrepiante :|
ResponderEliminarDevo dizer que sempre que aqui venho deparo-me com muitos recursos estilisticos, que aparentemente saem facilmente de si.
Um texto descritivo, mas muito leve.
Gostei, e dou os meus sinceros parabéns.
Beijinho
a tua escrita. como vento. que se agita... e sente. na face.
ResponderEliminarora acariciante... ora fugidio!...
como cais povoado. de histórias por contar.
gostei muito
As circunstâncias também nos fazem...
ResponderEliminarSaboreei cada palavra e senti uma certa nostalgia...
ResponderEliminar