sábado, 19 de julho de 2008

Da continuidade e da repetição...


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As férias estão quase a começar… e ainda tenho alguns assuntos por resolver.
Segunda e terça-feira, farei mais umas viagens… ir e voltar… ir e voltar…
Se este ano foi difícil, o próximo não será muito pior?
Há uma vantagem, todos me dizem [se é que pode ser considerada uma vantagem…], posso contar com a segurança da continuidade. Calo-me. Faço um silêncio, que me custa desvendar. A continuidade implica voltar a estar com as mesmas pessoas, que anseiam, não sem carinho, pelo nosso regresso… [Ir e voltar… ir e voltar…]
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Porque, o meu receio, nesta história da continuidade, é a repetição.
Ao contrário de muitas pessoas que conheço, eu temo as repetições. [Como o tempo dos relógios...]
O conforto do que já é conhecido não me conforta. Assusta-me. Sempre foi assim. Não gosto de repetir os passos que dei. Reajo mal ao déjà vu. [Em pequena, chamavam-lhe tédio, agora, nem sei como designar tal mania… e esta coisa das manias, tende a exacerbar-se com a idade.]
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Por isso, as rotinas me cansam… por isso, tento mudá-las, constantemente. Diria que, compulsivamente. Insisto em ver mudanças na paisagem, que passariam despercebidas à maior parte de quem passa… Insisto! E chamam-lhe atenção...
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E há rotinas impossíveis de mudar. Os horários, as mesmas salas… os mesmos rostos…
Por isso, também, procuro sinais que outros não precisarão de ver… os alunos e as alunas crescem!... As aulas não são dadas da mesma forma [e a uniformização que se anuncia já me constrange…], as matérias mudam, de um ano para o outro… Anseio que as pessoas mudem, também!... E chamam-lhe renovação...
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Não gosto de planear viagens. Custa-me fazer malas para as desfazer no destino. Mas, o que me custa, é arrumá-las para as trazer na chegada e voltar tudo ao mesmo!...
Nos regressos, procuro mudar o sítio dos objectos mais significativos, mais necessários e que são cada vez menos… E chamam-lhe insatisfação...
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[Por isso, escrevo. Não importa sobre o que escrevo. Escrevo. Procuro significados, à minha volta, para lá das continuidades. Procuro desfazer rotinas… Procuro as suas pontas soltas. Encontro, amiúde, o que me magoa e magoa os outros. Procuro e canso-me. Nem sempre encontro o que procuro. Nem sempre o que procuro é bonito de se ver… e nem sei a razão mais profunda dessa procura, que me acompanha, desde que me reconheço... insatisfeita... se assim o quiserem. ]
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Foto de www.olhares.com, rosto em movimento de Inês Nunes

9 comentários:

  1. e o que te magoa... encontra s...?

    sobre a insuficiência dos curtos intervalos de tomar fôlego e re
    gressar...,

    ando a querer muitO um intervalo maior:

    aquele em que não volto ao mesmo aquele em que sou

    creio nisso com uma enOrme confiança: tal como acredito agora

    [ cegamente

    no amor :)


    ~

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  2. O importante é procurar!E o momento nunca se repete, não é? Tudo é diferente a cada minuto que passa. Só é preciso saber ver. E tu sabes:))

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  3. Só para deixar um beijinho.. Depois volto com mais calma.
    :))

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  4. e que tal uma "mascarilha azul" de vez em quando?...

    excelente. pois claro...

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  5. Como te compreendo minha querida um ar de.
    Acho que todo o meu cansaço e alguma falta de paciência derivam de estar no mesmo sítio há tempo demais [para mim]. É por isso que, ainda que me dê mais canseira e trabalho, gosto quando me aparecem umas coisas fora do comum para fazer, com outras pessoas, noutros lugares.
    Há dias estive na Póvoa e lembrei-me muito de ti.
    Beijos com saudades. Quando nos vemos?

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  6. Estás cansada. Imagino-te uma pessoa com um grande sentido da responsabilidade e que desejando mudar não o faz.
    Corta e voa (Corta e vuela). Um bom livro de Fermín Zubiri, que dá muitos empurrões aos que parece que têm medo de alterar as coisas.
    Valência pode ser um bom destino para mudar de ares, se gostas do calor. Agora estamos em pleno auge com a Feira de Julho, mas a suar todo o dia.
    Animo, que tu vales muito mas fazes muito pouco por ti.
    Vais estar no Porto em Agosto?
    Muda, não entres na rotina, fazer-te-á bem...
    Abraços

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  7. e dessa insatisfação surge um texto tão bom como este!
    bom resto de domingo

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  8. Sabes que às vezes tenho muita dificuldade em comentar os teus textos. Mais uma vez um texto tão bom, tão bem escrito. E, ainda para mais, identifico-me muito com ele! Por isso, tudo pode soar a loas escusadas, mas não o são. É um agradecimento por saberes dizer coisas que me faz bem ver verbalizadas!

    beijos verbais e adjectivados e substantivados e até cheiinhos de proposições
    :)

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  9. Querida MdSol,

    É... Como é que costumas dizer, que não me lembro, textualmente?
    Parece que precisamos de ter as mãos em carne viva? [Não é nada disto, enfim...]
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    E é que, nem me parece nada saudável.
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    Pelo menos, aparentemente, sou de rápida cicatrização [nos cortes, nas feridas, nos arranhões...] e não fico com grandes "marcas".
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    Sem querer entrar na dicotomia do por dentro e por fora, às vezes, pergunto-me, apenas - e no "resto"?
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    Parece que não quero saber. [Que não preciso...]
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    [Beijo a pensar na imensidão do "resto"!]

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