quarta-feira, 9 de julho de 2008

Dos campos de milho [1]...



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Está quase na hora de ver as espigas de milho, dos campos por onde costumo passar.
Como vou a conduzir, na A28, é impossível parar para fotografar a paisagem.
Pedi emprestado este campo de milho, assim…
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Não é menos verde. Não será tão diferente.
Consegui ver estes campos nas quatro estações. Foram o cenário de muitas madrugadas ensonadas, que me ajudaram a despertar. Mesmo debaixo de chuva forte, de neblinas turvas, de luz e sombra… ajudaram-me a acordar para um novo dia. Fizeram-me esquecer alguns dissabores de muitas vésperas. Atenuaram o sabor amargo do recordar.
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Hoje, são campos de milho que desejo eternizar [assim como os braços e as mãos e os rostos, daqueles que não consegui ver, porque trabalhamos a contra-tempo…].
Quando, numa ou na outra direcção, era de noite e as luzes da estrada iluminavam o caminho, estavam lá, batidos pelo vento, fustigados pela chuva, numa penumbra cega e negra.
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Nunca hei-de parar, na A28, para entrar num campo de milho…
Nunca hei-de sentir a frescura da sombra dos delicados troncos verdes, que anunciavam as espigas, como em tempos idos, quando a minha avó me levava e me contava histórias, ou seguíamos mudas, debaixo do calor de Setembro, até chegarmos… [nunca fiz perguntas sobre o destino dessas nossas caminhadas].
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[Durante alguns anos da minha infância, julguei que todos os campos de milho eram da minha avó! E que, por entre todos os pés de milho, cresciam feijoeiros... Deixava-me colher e guardar as vagens num cesto de vime. E regressávamos…]
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de Paulo Martins, Foto de www.olhares.com

11 comentários:

  1. Deixe-me só garantir o 1º comentário :D

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  2. Agora sim vou comentar:
    Devo dizer que os campos de milho fazem-me imaginar vários cenários, devido as cores, e à extensão.
    Achei muito bom o seu texto, e o último parágrafo, teve um toque especial, pois o texto fala de recordações, algumas mais recentes, mas deu piada, ao dizer que pensava que todos os campos de milho eram da sua avó, neles cresciam feijoeiros, e inicia um ciclo com o "regressamos".
    Os seus textos, posso dizer que são soberbos, pois são muito arriscados e inesperados.
    Beijinho

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  3. A frescura dos campos de milho e a seiva da terra e a ternura da avozinha...julgo serem as tuas raízes reais que comovem na inocência com que falas delas...
    A alegria da incerteza que prevalece sobre a gaiola da causa e do efeito...E a tua alegria está tão absoluta na recordação com sabor a ma nostagia irrecuperável...se a minha hermenêutica estiver errada esquece mas o teu texto puro e os campos de milho frescos são bem genuínos...

    um beijinho

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  4. Gostei de ler.
    Sabes que há imensas coincidências entre as tuas viagens de carro e as minhas de metro e os campos de milho?
    vejo todo o ciclo. Ando há dias a pensar sair do metro a meio da viagem, na estação do Araújo, para fotografar os campos de milho, e depois esperar pelo metro seguinte. Mas cada dia adio porque já é tarde...
    E também tenho lembranças da infância com os campos de milho. Nunca tentaste fazer cigarros com as barbas do dito cujo?
    :)))
    Beijos de milho verde quase a espigar

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  5. Véu de Maya,
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    A minha avó era uma mulher austera, a quem eu nunca chamaria avózinha... embora tenha sido das pessoas de quem mais gostei [incondicionalmente].
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    Também não era de muitas palavras, mas dizia [o que eu penso] que julgava ser o essencial.
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    Não explicava duas vezes, ou porque se achava explícita, ou confiava no bom entendimento da neta... e o que eu não entendi, acabei por perceber com a passagem do tempo.
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    Morreu muito jovem, tinha eu 9 anos... Lembro-me dela todos os dias, sobretudo, agora... que a minha idade se aproxima da dela...
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    Teve uma história de vida única. Mas, isso é mesmo uma outra história.
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    Aparece em muitos dos meus posts. Este não introduz grande novidade... :)
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    [Beijo, pelo ensaio hermenêutico...]

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  6. Querida T&T:
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    O que nós não fazíamos, deixados à solta, naqueles campos, comigo já mais crescida...
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    Mas acabou cedo.
    O Setembro passou a ser em casa do meu avô paterno, protegidos numa casa murada, onde só os irmãos e primos brincavam...
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    Claro, tínhamos a igreja por nossa conta [quase o anexo da casa do meu avô]... Mas não havia campos de milho. Havia socalcos muito bem plantados e cuidados, por um caseiro, as saídas eram muito controladas e davam para os pinhais da serra. Tudo era propriedade dos ingleses, que exploravam as Minas da Panasqueira.
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    [Beijo de ainda hei-de ver as espigas!]

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  7. O qu ese descobre nestas caixas de comentários... gigarros de barbs de milho hummmmmm Tá.
    Eu gosto muito de campos de milho
    Um dos meus "embasbacamentos"(embasbaco-me com pouco?) que ainda hoje funciona foi o confronto coma a altura e a pujança do milho aqui de baixo, comparado com a altura do milho lá de cima. Fez-me mal tomar consciência que o milho lá de cima é raquítico comparado com este que falaste tu e a Tinta Azul!
    Poizé: até o milho!
    O teu texto tão bonito, é um hino ao milho TODO!
    beijos espigadotes mas sem barba ora bem!(rsrsrsr)
    :)

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  8. os campos de infância (de milho, de trigo, de estevas...) são sempre os mais belos.

    feliz de quem sabe preservá-los. intactos...

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  9. adoro não só o mistério incrível

    do milho

    a [ surpresa das ´saias` sobrepostas! :)

    como também o seu cheiro a textura o sabor...

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  10. Também voltei à infância. À minha avó materna. Doce, querida, meiga e, pelo que me lembro, a única pessoa que me deu mimo. Tam havia campos de milho. Também fiz cigarros com as barbas do milho. Será que é por isso que eu engordo?! Para guardar tanta recordação?!

    Beijinho grande

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  11. Esplendido campo de milho, carreiros simétricos que se prolongam até formar linhas concorrentes por efeito óptico, mas deslumbrantes no seu verdor.

    Recordações similares, as que guardo, dos campos de Quires que cultivava o meu avô Joaquim...

    Obrigado por fazer-me reviver tão inesquecíveis momentos, e uma das pessoas que mais me ensinou desta vida.
    Fizeste-me feliz.

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